terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Apocalipse 10: Uma pausa para ministrar conforto

Aquilo que foi revelado até agora a João e aos seus leitores certamente trazem informações que tem um peso de juízo muito grande e assustador.

Jesus tem revelado a deterioração progressiva da Igreja, a inexorável vinda de guerras terríveis, de fome, de pestes, da morte de uma parcela significativa de toda a humanidade, de pragas indescritíveis, tanto demoníacas como sobre os rios, mares e todo o planeta e cosmos...

O Espírito percebe o peso dessas revelações e resolve trazer um momento de consolo a João e aos seus leitores, dando a segurança que, APESAR DISSO TUDO, Deus está no controle da situação e que tudo serve a um propósito maior.

👉 Vi outro anjo forte descendo do céu, envolto em nuvem, com o arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo; e tinha na mão um livrinho aberto. Pôs o pé direito sobre o mar e o esquerdo, sobre a terra, e bradou em grande voz, como ruge um leão, e, quando bradou, desferiram os sete trovões as suas próprias vozes. Logo que falaram os sete trovões, eu ia escrever, mas ouvi uma voz do céu, dizendo: Guarda em segredo as coisas que os sete trovões falaram e não as escrevas. Então, o anjo que vi em pé sobre o mar e sobre a terra levantou a mão direita para o céu e jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos, o mesmo que criou o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles existe: Já não haverá demora, (Apocalipse 10:1-6) 

Os julgamentos dos selos e das seis primeiras as trombetas ficaram para trás. 

Falta pouco tempo para que a tribulação chegue ao fim, questão de poucos meses ou semanas. 

A sétima trombeta (contendo as sete tigelas) que está dentro do sétimo selo ainda aguarda para ser tocada. 

Da mesma maneira que o capítulo 7 ficou entre os julgamentos do sexto e do sétimo selo, os capítulos 10 a 15 estão colocados entre a sexta e a sétima trombetas e prepara o cenário para a trombeta final. 

Após terem sido descritos juízos tão intensos e terríveis, o propósito do capítulo 10 é encorajar o povo de Deus em meio à fúria e horror do julgamento divino, e os lembrar de que Deus ainda está em controle soberano de todos os eventos, pois estes têm um propósito. 

Durante os interlúdios, Deus conforta Seu povo com o conhecimento de que Ele não os esqueceu e que, no final, eles serão vitoriosos.

Esse propósito de consolo da passagem é evidenciado pelos seguintes detalhes: 

- a nuvem fala da PRESENÇA  DIVINA. 

- o arco-íris fala da FIDELIDADE DIVINA. 

- o sol fala do PODER E SOBERANIA DIVINOS. 

- a coluna fala da IMUTABILIDADE DIVINA. 

- o livrinho fala da Palavra de Deus e da FIRMEZA DAS PROMESSAS DIVINAS. 

- Os pés sobre a terra e o mar falam da POSSESSÃO DIVINA, e de estarem todos esses eventos em função de sua REINTEGRAÇÃO DE POSSE. 

- a grande voz, o rugido, o brado e os trovões falam da AUTORIDADE DIVINA, que garante essa reintegração. 

- a mão direita e o juramento falam da INFALIBILIDADE DIVINA. 

👆todas essas características e qualidades DIVINAS estão em função da garantia: Já não haverá demora. 

Resumindo 10:1-6: Aguenta a mão só mais um pouquinho que Eu estou no controle e garanto que tudo vai dar certo. 

👉 mas, nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas. (Apocalipse 10:7) 

O tema deste capítulo é trazer consolo (1-6) e declarar a intenção de Deus de tomar posse da terra - ambos terra e mar, dando assim cumprimento das muitas promessas proféticas encontradas nas Escrituras que apontam para o estabelecimento de Deus reino na terra. 

👉 Fui, pois, ao anjo, dizendo-lhe que me desse o livrinho. Ele, então, me falou: Toma-o e devora-o; certamente, ele será amargo ao teu estômago, mas, na tua boca, doce como mel. Tomei o livrinho da mão do anjo e o devorei, e, na minha boca, era doce como mel; quando, porém, o comi, o meu estômago ficou amargo. (Apocalipse 10:9-10) 

“Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca.” (Salmos 119:103) 

“são mais doces do que o mel e o destilar dos favos” (Salmos 19:10) 

Embora o sabor inicial da Palavra de Deus seja doce, o resultado final, em seus desdobramentos, será amargo; “ser duro no estômago” é uma tradução melhor do que “amargo”, pois não temos o paladar em nossos estômagos, o que o texto quer dizer então, é a não digestão do que foi ingerido, uma “indigestão”. 

Comer nas Escrituras é aceitação, obediência, assimilação, identificação, pois somos aquilo que comemos. 

Os judeus se escandalizaram com Jesus Cristo porque não entenderam a alegoria que Ele estava utilizando: “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá.” (João 6:53-57) Cristo aqui estava pregando sobre aceitação, identificação e obediência. 

Para quem tem a atitude de obediência, a Palavra de Deus é a Palavra de vida. Para aqueles que rejeitam, é a Palavra de morte. Esta dupla natureza da Palavra de Deus foi entendida por Paulo:

“Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2 Coríntios 2:15,16) 

Outros profetas passaram por essa experiência: 

“Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó Senhor, Deus dos Exércitos...sabes que por amor de ti tenho sofrido afrontas...Eu te porei contra este povo como forte muro de bronze; eles pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo para te salvar, para te livrar deles, diz o Senhor; arrebatar-te-ei das mãos dos iníquos, livrar-te-ei das garras dos violentos.” (Jeremias 15:16,15b,20,21) 

“Ainda me disse: Filho do homem, come o que achares; come este rolo, vai e fala à casa de Israel. Então, abri a boca, e ele me deu a comer o rolo. E me disse: Filho do homem, dá de comer ao teu ventre e enche as tuas entranhas deste rolo que eu te dou. Eu o comi, e na boca me era doce como o mel. Disse-me ainda: Filho do homem, vai, entra na casa de Israel e dize-lhe as minhas palavras. Porque tu não és enviado a um povo de estranho falar nem de língua difícil, mas à casa de Israel; nem a muitos povos de estranho falar e de língua difícil, cujas palavras não possas entender; se eu aos tais te enviasse, certamente, te dariam ouvidos. Mas a casa de Israel não te dará ouvidos, porque não me quer dar ouvidos a mim; pois toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração.” (Ezequiel 3:1-7) 

Os desdobramentos da Palavra de Deus...Jeremias, Ezequiel e João passam por experiências semelhantes: eles têm o prazer da revelação da mente, da vontade e dos planos de Deus, a doçura da comunhão, e eles dela se alimentam, pois obedecem (comem!) prontamente, mas, então, seguem-se os desdobramentos da resistência, da recusa, da incredulidade, das afrontas e até da violência e da perseguição. 

As mensagens que eles trazem não são agradáveis aos seus ouvintes, mensagens de julgamento e destruição, tanto de Jerusalém como do mundo inteiro, e, a resposta de seus ouvintes traz desgosto, amargura, indigestão, tanto é que vez por outra, os profetas até pediam dispensa da tarefa e até mesmo a morte (como foi o caso de Moisés, Elias, Jeremias...): 

"Maldito o dia em que nasci! Não seja bendito o dia em que me deu à luz minha mãe! Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Por que não me matou Deus no ventre materno? Por que minha mãe não foi minha sepultura? Ou não permaneceu grávida perpetuamente?" (Jeremias 20:14,17) 

👉 Então, me disseram: É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis. (Apocalipse 10:11) 

Resumindo: 

A primeira parte deste capítulo (1-7) tem como objetivo consolar os leitores/ouvintes de João: “já não haverá demora”. 

A segunda parte (8-11 tem como objetivo consolar o próprio João: “é necessário”. 

Por mais que uma alma sensível e renascida, como a de João (e o Espírito bem pode estar detectando isso em função das terríveis visões), possa estar abalada, tanto com a magnitude de destruição, como pela reação dos homens de não se arrependerem mesmo diante disso, João não pode esmorecer, é necessário que ele prossiga em sua incumbência de anunciar as coisas vindouras, mesmo porque, o pior está prestes a acontecer.