sábado, 15 de abril de 2023

Por que Deus permite a existência do mal? (Parte 3)

 

Três possíveis explicações da razão pela qual Deus permitiu o pecado 

De acordo com tudo quanto foi dito acima, vemos que o mal moral, tanto em sua origem como em seu prosseguimento, foi incluído nos decretos de Deus como permitido, mas permi­tido com algum sábio objetivo.

Que Deus decretou permitir o pecado, desde toda a eterni­dade, vê-se no fato que, também desde toda a eternidade, Ele decretou salvar pessoas mediante a morte de Cristo, como se declara na seguinte passagem das Escrituras: “Não foi medi­ante coisas, corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resga­tados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” (1Ped.1:18-20; veja-se também o v. 2 e Rom.8:29; 2Tim.1:9; Tito1:2; Apoc.13:8).

Há outra pergunta a fazer em conexão com este as­sunto, a saber: Por que permitiu Deus que o mal entrasse no mundo? Se Ele odeia o mal e tem todo o poder, de modo que podia tê-lo impedido, por que o permitiu com suas consequên­cias indescritivelmente dolorosas? Esta é a pergunta que mais nos deixa perplexos.

Jamais seremos capazes de responder a ela nesta vida.

A permissão e a presença do pecado no universo, onde Deus infinitamente santo, exerce domínio, oca­sionam um entrechoque de idéias, as quais, por tudo quanto envolvem, nenhum espírito humano pode har­monizar completamente. Tendo-se em vista as duas realidades inconciliáveis, Deus e o pecado, é certo que a solução da dificuldade não será descoberta nem na suposição de que Deus era incapaz de impedir o apa­recimento do pecado no universo, nem de que Ele não pode fazê-lo cessar a qualquer momento. Na pro­cura dessa solução, é certo que o dilema não será ven­cido ou atenuado, supondo-se que o pecado não é excessivamente mau à vista de Deus — pois Ele tem-lhe aversão absoluta. O fato permanece sem modificação, que Deus, ativa e infinitamente santo e absolutamente livre em seus empreendimentos, sendo capaz de criar ou não criar, e de excluir o mal daquilo por Ele criado, permitiu não obstante que o mal aparecesse e ope­rasse na esfera dos anjos e do homem. Esta perplexi­dade sobe de ponto, atingindo um grau imensurável, se considera o fato de que Deus sabia, quando per­mitiu a manifestação do pecado, que este lhe custa­ria o maior sacrifício que lhe seria possível fazer — a morte de seu Filho. As Escrituras atestam, com bas­tante ênfase que (a) Deus é todo-poderoso e, por con­seguinte, não recebe imposição do pecado contra sua vontade permissiva; (b) que Deus é perfeitamente santo e odeia o pecado incondicionalmente; e (c) que o pecado está presente no universo, ocasionando toda sorte de malefícios aos seres criados e que esse dano, em vista da incapacidade de alguns de entrarem na graça da redenção, pesará sobre eles por toda a eternidade”.

Embora as perguntas acerca deste problema sejam de fato desconcertantes, algumas respostas têm sido sugeridas. Vou referir algumas. 

Sendo o propósito final de Deus trazer os homens à sua semelhança, estes, para alcançar esse fim, devem chegar a saber em certo grau o que Deus sabe. De­vem reconhecer o caráter maligno do pecado. Este, intuitivamente, Deus conhece; mas tal conhecimento pode ser adquirido, pelas criaturas, apenas por meio de observação e experiência. Obviamente, se o pro­pósito divino tem de ser realizado, ao mal deve-se permitir que se manifeste. O que a demonstração do pecado e sua experiência podem significar para os anjos não está revelado”. 

Uma segunda explicação é que a existência de agen­tes livres no universo seria uma possibilidade virtual de revolta contra Deus, em qualquer tempo.

Noutras palavras, a existên­cia de vontades livres, capazes de se opor à vontade de Deus, seria, por toda a eternidade, um principio potencial de pecado, e tal princípio de pecado tinha de ser trazido “a juízo completo e final”. Deus desejou tornar impossível, no fim, não somente a realidade do pecado, mas até sua possibilidade. Como não é possível condenar uma abstração, Deus permitiu que o pecado ou o mal se concretizasse, de modo a poder ser condenado na cruz, onde seu caráter foi plenamente revelado nos sofrimentos do Filho de Deus. Por essa forma todas as criaturas de Deus aprenderiam que coisa insana, penosa indescritivelmente in­grata e desastrosa é desobedecer a Deus, e depois da experiên­cia dolorosa do pecado todas elas se conformariam natural e alegremente com a sua perfeita vontade e trilhariam seus caminhos sapientíssimos. Foi esta a experiência do Filho Pródigo. 

Desde o dia em que Eva, aos prantos, gritou desesperada ao ver seu querido filho Abel morto pelo próprio irmão, “por que Deus isso aconteceu?”, passando pela dolorosa experiência de Jó, por todo o mal em inúmeros níveis ao longo da história e pelo mal que hoje vemos ao nosso redor e do que experimentamos pessoalmente (existe coisa mais triste e desalentadora do que o setor de oncologia infantil de um hospital?) o homem, teólogos ou não tem perguntado: “por que o mal existe?” 

No dia do juízo final, quando TODOS os seres livres do universo (anjos e homens) estiverem presentes assistindo a condenação final dos perdidos, não restará dúvidas, exercer o poder de escolha para escolher o mal é algo muito sério e cujas consequências são inimagináveis... 

Imaginem o sentimento de Adão e Eva, que também estarão presentes naquele Dia, contemplarem as consequências de sua decisão pela desobediência, ao verem bilhões (!!!) de seus filhos sendo jogados aos gritos, um por um, para um lago de fogo onde a fumaça de seu tormento subirá pelos séculos dos séculos! 

Não apenas eles, mas todos nós veremos esta horrível cena, quando amigos, inimigos, parentes, pessoas que gostávamos e pessoas que detestávamos, bilionários, famosos, mendigos e inexpressivos, jovens e velhos, genocidas e operosos altruístas descerão para uma eternidade de sofrimento sem fim, como ilustração eterna do que o mal é capaz de produzir... 

Sim, neste Dia, será explícita e indiscutível, nos eleitos, a convicção de quão desastrosa é a rebelião. 

Uma terceira explicação é que Deus permitiu o peca­do a fim de ter oportunidade de dar a conhecer sua justiça e sua graça, que jamais poderiam ser reveladas se no mundo não houvesse pecadores, para serem condenados, ou serem salvos.

Paulo sugere isso nas seguintes passagens: “Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu po­der, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, prepa­rados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão?” (Rom.9:22,23). “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo... para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado... a fim de sermos para louvor da sua glória” (Ef.1:4-6, 9-12).

É interessante, porém, notar que a Bíblia jamais procura responder nossas perguntas sobre o problema do mal e do so­frimento.

No caso clássico de Jó, a única resposta que Deus lhe deu foi que, se ele não podia entender os fatos mais simples da na­tureza, como podia compreender os mistérios divinos? Todavia, deve ter sido um gozo e glória indizíveis para ele saber que seus sofrimentos contribuíram para a glória de Deus e confusão de Satanás. E note-se também que no fim tudo para Jó veio a ser melhor do que no princípio. E o mesmo acontecerá a todos quantos pertencem a Deus.

No caso do cego de nascença, temos o que podemos cha­mar “o problema do mal num caso concreto”. Cristo, no en­tanto, não procurou responder a pergunta acerca desse proble­ma, porém fez melhor, isto é, primeiro declarou que os sofri­mentos daquele homem foram permitidos para a glória de Deus, e depois o curou. E assim aprendemos que Cristo não veio para responder nossas perguntas quanto ao problema do mal, mas, muito melhor do que isso, veio para destruir o mal. Co­mo Ele disse naquela ocasião: “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (Jo.9:4,5). E havendo dito isso, deu luz ao cego.

Cristo veio para destruir o mal, “para destruir as obras do diabo” (1Jo.3:8). Foi Ele que se tornou semente da mulher para esmagar a cabeça da serpente. E Ele fez isso mediante sua vida, morte e ressurreição (Heb.2:14). Agora Ele está à direita do Pai, aguardando o tempo fixado por Deus, em seus decretos, quando todos os seus inimigos serão postos por es­trado de seus pés (Heb.1:13). No livro do Apocalipse, onde se nos descrevem as últimas coisas, vemos o Cristo vitorioso destruindo todo o mal e toda oposição a Deus, e lançando a an­tiga serpente, que é o diabo e Satanás, no lago de fogo e enxo­fre. Será isso o fim da grande luta anunciada em Gen.3:15, fim glorioso com a vitória completa da luz sobre as trevas, da verdade sobre a mentira, da vida sobre a morte, do bem sobre o mal, de Deus sobre Satanás.

É verdade que não podemos explicar o problema intrincado do mal, mas isso não é o que mais importa: o mais importante é sabermos que o mal será destruído e no final tudo redundará na glória de Deus e no gozo e felicidade de todos quantos lhe pertencem.

Por que Deus permite a existência do mal? (Parte 2)

 

Decretos Positivos e Decretos Permissivos

 

Todos os acontecimentos, de qualquer que seja a natureza, que ocorrem no tempo, foram determinados ou preordenados por Deus desde toda a eternidade para ocorrer, e todos para a final promoção de sua própria glória.

Deve-se, entretanto, notar que há uma diferença a ser sempre observada entre o que tem sido denominado decreto eficaz e decreto permissivo de Deus. 

Os decretos de Deus dividem-se em duas categorias: 

1. Decretos positivos ou eficazes 

2. Decretos permissivos 

Há nos decretos de Deus certas coisas que Ele mesmo exe­cuta. Há outras, no entanto, que Ele não executa, mas permite que suas criaturas racionais executem (TERCEIRIZAÇÃO). 

Mas tanto o que Ele pró­prio executa como o que permite às suas criaturas executar está incluído em seu plano que tudo abrange, e foi, pois, decretado. 

Decretos eficazes são os que determinam ocorrências direta­mente por meio de causas físicas: 

Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos... Fez Deus os dois grandes luzeiros: o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite (Gênesis 1:14,16) 

Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite. (Gênesis 8:22) 

Quando regulou o peso do vento e fixou a medida das águas; quando determinou leis para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões (Jó 28:25,26) 

Além disso, o Senhor, teu Deus, mandará entre eles vespões, até que pereçam os que ficarem e se esconderem de diante de ti. (Deuteronômio 7:20) 

E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; (Atos 17:26,27) 

e de forças espiri­tuais: 

porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. (Filipenses 2:13) 

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, (Efésios 2:1) 

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; (Efésios 2:8) 

Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. (Efésios 2:10) 

e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. (Efésios 4:24) 

Decretos permissivos são os que concernem ao mal moral ou ao pecado, que Deus decidiu permitir, mas do qual Ele não é a causa ou o autor. 

O Deus eterno é a tua habitação, e por baixo estão os braços eternos; e ele lançará o inimigo de diante de ti, e dirá: Destrói-o. (Deuteronômio 33:27) 

Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu me recordei do que fez Amaleque a Israel; como se lhe opôs no caminho, quando subia do Egito. Vai, pois, agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos. (1 Samuel 15:2,3) 

que digo de Ciro: Ele é meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; que digo também de Jerusalém: Será edificada; e do templo: Será fundado. (Isaías 44:28) 

O Senhor amou a Ciro e executará a sua vontade contra a Babilônia, e o seu braço será contra os caldeus. (Isaías 48:14) 

A Zedequias, rei de Judá, e a seus príncipes, entregá-los-ei nas mãos de seus inimigos e nas mãos dos que procuram a sua morte, nas mãos do exército do rei da Babilônia. (Jeremias 34:21) 

Tu, Babilônia, eras meu martelo e minhas armas de guerra; por meio de ti, despedacei nações e destruí reis; (Jeremias 51:20) 

Disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está em teu poder; mas poupa-lhe a vida. Então, saiu Satanás da presença do Senhor e feriu a Jó de tumores malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça. (Jó 2:6,7) 

Perguntou o Senhor: Quem enganará a Acabe, para que suba e caia em Ramote-Gileade? Um dizia desta maneira, e outro, de outra. Então, saiu um espírito, e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o enganarei. Perguntou-lhe o Senhor: Com quê? Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. Disse o Senhor: Tu o enganarás e ainda prevalecerás; sai e faze-o assim. (1 Reis 22:20-22) 

E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. (2 Coríntios 12:7) 

Naturalmente, Deus é o único agente na criação, na providência, na regeneração, na inspiração, etc. 

Todavia os pecados cometi­dos por livres agentes — os anjos e os homens — foram de­cretados apenas permissivamente, porque Deus não pode ser o autor do pecado, e porque nada podia acontecer sem sua permissão. 

porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel,
para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram;” (Atos 4:27,28) 

Seus decretos eficazes relacionam-se com tudo quanto é moralmente bom; seus decretos permissivos, com tudo quanto é moralmente mau. 

Sua agência ime­diata nunca se refere ao moralmente mau. 

Ele per­mite que o mal aconteça, e o dirige eficazmente para o bem, para a promoção de sua glória. 

Quando se sabe, com certeza, que uma coisa vai ser feita, a menos que seja impedida, e quando há uma determinação de não a impedir, essa coisa é dada como certa, como se fosse decretada para ser feita por agên­cia positiva. 

Num caso, o evento é dado como certo por agência exercida e, no outro caso, é dado igual­mente como certo por agência recusada. 

É decreto imutável em ambos os casos. 

Os pecados de Judas e dos que crucificaram o Salvador foram tão inalteravelmente decretados, permissivamente, quanto à vin­da de Cristo ao mundo foi decretada positivamente. 

Esta consideração dos decretos permissivos de Deus faz que se levante o problema complexo e embaraçoso da origem e existência do mal moral. 

Temos naturalmente de distinguir entre o mal moral (o pecado) e o mal natural (sofrimentos, perdas, etc). 

Deus não é o autor do primeiro, mas é o agente do segundo. 

Não devemos esquecer, todavia, que o mal natural é uma consequência do mal moral. Deus amaldiçoou a terra em conseqüência do peca­do do homem. (Gênesis 3:17) 

A desventura persegue os pecadores” (Provérbios13:21), isto é, o mal natural é resultado do mal moral, de acordo com as leis de Deus, como vemos em Gálatas 6:7, “Aquilo que o homem semear, isto também ceifará”. 

Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a paz e crio o mal (calamidade no heb.); eu o Senhor faço todas estas coisas.” (Isaías 45:7). 

 Eis que estou forjando mal e formo um plano contra vós outros; convertei-vos, pois, agora, cada um do seu mau proceder” (Jeremias18:11). O mal natural que Deus ia formar seria o resultado do mal moral deles. 

Porque o Senhor dos Exércitos, que te plantou, pronunciou contra ti o mal, pela maldade que a casa de Israel e a casa de Judá para si mesmas fizeram, pois me provocaram à ira, queimando incenso a Baal.” (Jeremias 11:17) 

Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que trarei sobre esta cidade e sobre todas as suas vilas todo o mal que pronunciei contra ela, porque endureceram a cerviz, para não ouvirem as minhas palavras.” (Jeremias 19:15)

Por que Deus permite a existência do mal? (Parte1)

Três fatos a respeito do problema do mal

 

Existem pelo menos três fatos que são inegáveis e que todos os teístas admitem: 

       1. A existência do mal, 

2. O fato de Deus não poder ser o autor do mal, e 

3.   O fato de Deus permitir que o mal exista. 

O primeiro fato que todos temos de reconhecer é a existência do mal ou pecado no mundo.

Os sofrimentos a que todos estamos sujeitos; o egoísmo que caracteriza todos os ho­mens; os inúmeros atos maus que têm sido cometidos por todos os membros da raça humana através das eras; a existência de pecados como o ódio, a cobiça, os ciúmes, as menti­ras, a lascívia e um sem número de pecados semelhantes, pecados que nós mesmos experimentamos, e pecados que vemos ao nosso redor, em nosso próximo. Todos estes fatos conspiram em provar o triste, mas incontestável fato de que o mal existe no mundo. Já se disse que a história da humanidade tem sido escrita com sangue, porque é a história de suas guer­ras.

Não podemos negar a realidade do mal, não só porque sabemos de sua existência por nossa pró­pria experiência, mas especialmente porque a revelação de Deus a afirma. 

A realidade do mal é tão evidente que os pagãos foram levados a pensar que existem no mundo duas forças eternas e opostas entre si, as quais têm estado e estarão em luta constan­te para todo o sempre. 

Nós, que cremos num Deus eterno e onipotente, não podemos concordar com essa teoria. Não cre­mos nesse dualismo. 

Sabemos que o bem é eterno, porque tem sua fonte em Deus, que não teve princípio nem terá ja­mais fim; mas o mal é transitório, porque começou no tempo, com os seres criados, e acabará no tempo marcado por Deus, depois de ter realizado seu propósito. 

E assim, na eternidade o bem reinará supremo e o mal não existirá. Nunca mais haverá qualquer maldição. (Apocalipse 22:3)

O segundo fato que todos temos de admitir é que Deus não é o autor do mal. 

O Deus em quem cremos é infinita­mente bom e perfeito. Não podia ser o originador do mal. Todas as Escrituras ensinam que Deus é infinitamente santo e por isso, não podia ser o autor de algo que é exatamente o oposto de sua natureza. O conceito do mal por si mesmo nega a possibilidade de se atribuir sua origem a Deus. O mal em sua essência opõe-se, é contrário a Deus e suas perfeições, em su­ma, viola suas leis.

As figuras da luz e das trevas, empregada pela Bíblia para designar a Deus e a Satanás, respectivamente, revelam essa impossibilidade: 

Deus é luz, e não há nele treva ne­nhuma (1João1:5). 

Mas o reino de Satanás é o reino das tre­vas (Efésios 6:12; Atos 26:18; Colossenses 1:12,13). 

As trevas são a ausência da luz. Assim, pois, o mal é a ausência de Deus, de quem procede todo o bem. 

Portanto, Ele não pode ser o originador do mal, visto como não pode contradizer-se a si mesmo. Não pode ser ao mesmo tempo luz e trevas. Esta é a razão pela qual Tiago declara em sua epístola: “Deus não pode ser tentado pelo mal” (Tiago 1:13). 

É o mal uma tendência impessoal, ou se originou numa pessoa?

O mal não pode ser uma tendência impessoal, porque neste caso teríamos de admitir uma das duas:

ou Deus é o seu autor, ou existem duas forças opostas entre si no universo.

Nou­tros termos, se o mal fosse uma tendência, ou seria ele criado por Deus (o que importaria em negar a santidade divina), ou o dualismo seria uma verdade. 

A única explicação possível da origem do mal é a existên­cia de um ser moral que, tendo sido feito livre, podia opor-se a Deus. 

No momento em que Deus criou um ser moral, inteligente, livre e responsável, dotado de vontade que podia opor-se à sua, ele criou a possibilidade de se desobede­cer a essa sua vontade e, portanto, criou a possibilidade do pe­cado que, como já vimos, é algo contrário a Deus ou é o afasta­mento de Deus. 

Ser moral é o que é livre e responsável, e, portanto, tem o direito de obedecer ou de desobedecer a Deus. 

Além do que, não há valor algum na obediência que não seja acompanhada da possibilidade de desobedecer. 

Visto como Deus não se pode contradizer a si mesmo, não podia negar a um agente livre o direito de desobedecer-lhe; ou, noutras palavras, não podia tirar-lhe o que ele próprio lhe houvera dado — a liberdade. 

A Bíblia revela que toda vez que Deus criou um ser moral, submeteu-o a uma prova para ver se lhe obedecia ou não, dando-lhe uma oportunidade de decidir ser a favor ou contra Deus. (Deuteronômio 8:2; 2 Crônicas 32:31) 

Foi este o caso dos anjos, e foi igualmente o caso do homem, no princípio.

O mesmo aconteceu até com o homem Jesus Cristo, quando o Espírito o impeliu ao deserto para ser tentado pelo diabo. Apesar de ser Filho, precisou aprender a obediência através de seus sofrimentos (Hebreus 5:8). 

Quando Deus criou o homem, o mal já existia, visto como, antes da queda, proibiu-lhe comer do fruto da árvore da ciên­cia do bem e do mal. 

Penso que esta é a razão por que Deus proveu redenção para o homem, porém não para Satanás e seus anjos. 

Não foi o homem que originou o espírito de revolta contra Deus, e de certo modo foi vítima do grande adversário de Deus. 

Note-se que o inferno não foi feito para o homem, mas foi “preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:4l). 

Concluímos, pois, que o mal começou com a desobediência de um ser moral, que se rebelou contra Deus e levou o homem a lhe seguir as pegadas. 

Depois de começar com um ato de desobediência, o mal tornou-se uma tendência nos seres desobedientes. (Romanos 5:19a) 

Temos aí por que todos os descendentes de Adão nascem com uma natureza pecaminosa, como o decla­rou Davi: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5). 

Deus é o único que pode modificar e extinguir essa tendência mediante uma completa transforma­ção chamada nas Escrituras novo nascimento. 

O terceiro fato que precisamos admitir, com referên­cia a este assunto, é que Deus decidiu permitir o mal, permitir que o pecado entrasse no mundo.

Admitir a santidade de Deus é reconhecer que Ele não podia ser o originador do mal. Mas, por outro lado, crer em sua onipotência é reco­nhecer que o mal não podia vir a existir sem que Ele o permi­tisse. 

Ele decidiu, por algumas razões não plenamente revela­das*, permitir que o mal penetrasse no mundo. Todavia não devemos esquecer que, permitindo a existência do mal, Deus é capaz de controlá-lo e também de extingui-lo no devido tempo. 

* Uma leve sugestão de porque pode ser encontrada em Filemom 1:15,16: “Pois acredito que ele veio a ser afastado de ti temporariamente, a fim de que o recebas para sempre, não como escravo; antes, muito acima de escravo, como irmão caríssimo. 

Que Deus tem controle do mal nos homens e nos seres malignos vemo-lo no fato de Satanás não poder fazer qualquer mal a Jó, enquanto Deus não lho permitiu, e ainda assim somente até onde Deus permitiu. 

Mesmo para entrar nos porcos, os demônios precisa­ram pedir que Cristo o permitisse (Mateus 8:31,32). 

Algumas vezes Deus coíbe as ações dos ho­mens, como no caso de Abimeleque, a quem Ele disse: “Daí o ter impedido eu de pecares contra mim, e não te permiti que a tocasses” (Gênesis 20:6). 

Outras vezes Deus não coíbe, “Mas Amazias não quis atendê-lo; porque isto vinha de Deus, para entregá-los nas mãos dos seus inimigos, porquanto buscaram os deuses dos edomitas.” (2 Crônicas 25:20) 

O rei, pois, não deu ouvidos ao povo, porque isto vinha de Deus, para que o Senhor confirmasse a palavra que tinha dito por intermédio de Aías, o silonita, a Jeroboão, filho de Nebate.” (2 Crônicas 10:15) 

sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos;” (Atos 2:23) 

Que Deus é capaz de dominar até os desejos dos homens vem declarado em Êxodo 34:24, onde lemos: “Ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para compare­cer na presença do Senhor teu Deus três vezes no ano”. 

Ou­tras vezes, no entanto, Deus permite que os homens procedam como querem, abandonando-os às suas próprias tendências e de­sejos. Por exemplo: “nas gerações passadas, Deus permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios cami­nhos” (Atos14:16). 

Lemos também que “lhes fez o que deseja­vam” (Salmos 78:29). 

Ainda lemos em Romanos 1:24,28 que, por cau­sa do orgulho, da ingratidão e da vaidade dos homens, Deus “os entregou à imundícia, pelas concupiscências de seus pró­prios corações”.