Três fatos a respeito do problema do mal
Existem pelo menos três fatos que são inegáveis e que todos os teístas
admitem:
1. A existência do mal,
2.
O fato de Deus não poder ser o autor do mal, e
3.
O fato de Deus permitir que o mal
exista.
O primeiro fato que todos temos de reconhecer é a existência do mal ou pecado no mundo.
Os sofrimentos a que todos estamos sujeitos; o egoísmo que caracteriza todos os homens; os inúmeros atos maus que têm sido cometidos por todos os membros da raça humana através das eras; a existência de pecados como o ódio, a cobiça, os ciúmes, as mentiras, a lascívia e um sem número de pecados semelhantes, pecados que nós mesmos experimentamos, e pecados que vemos ao nosso redor, em nosso próximo. Todos estes fatos conspiram em provar o triste, mas incontestável fato de que o mal existe no mundo. Já se disse que a história da humanidade tem sido escrita com sangue, porque é a história de suas guerras.
Não podemos negar a realidade do mal, não só porque
sabemos de sua existência por
nossa própria experiência, mas especialmente porque a revelação de Deus a afirma.
A realidade do mal é tão evidente que os pagãos foram levados a
pensar que existem no mundo duas forças eternas e opostas entre si, as quais
têm estado e estarão em luta constante para todo o sempre.
Nós, que cremos num Deus eterno e onipotente, não
podemos concordar com essa teoria. Não cremos nesse dualismo.
Sabemos que o bem é eterno, porque tem sua fonte em Deus,
que não teve princípio nem terá jamais fim; mas o mal é transitório, porque começou no tempo,
com os seres criados, e acabará no tempo marcado por Deus, depois de ter
realizado seu propósito.
E assim, na eternidade o bem reinará supremo e o mal
não existirá. Nunca mais haverá qualquer maldição. (Apocalipse
22:3)
O segundo fato que todos temos de admitir é que Deus não é o autor do mal.
O
Deus em quem cremos é infinitamente bom e perfeito. Não podia ser o originador
do mal. Todas as Escrituras ensinam que Deus é infinitamente santo e por isso, não podia ser o autor de algo
que é exatamente o oposto de sua natureza. O conceito do mal por si
mesmo nega a possibilidade de se atribuir sua origem a Deus. O mal em sua
essência opõe-se, é contrário a Deus e suas perfeições, em suma, viola suas
leis.
As figuras da luz e das trevas, empregada pela Bíblia
para designar a Deus e a Satanás, respectivamente, revelam essa
impossibilidade:
Deus
é luz, e não há nele treva nenhuma (1João1:5).
Mas o reino de Satanás é o reino das trevas (Efésios
6:12; Atos 26:18; Colossenses 1:12,13).
As trevas são a ausência da luz. Assim, pois, o mal é
a ausência de Deus, de quem procede todo o bem.
Portanto, Ele não pode ser o originador do mal, visto
como não pode contradizer-se a si mesmo. Não pode ser ao mesmo tempo luz e
trevas. Esta é a razão pela qual Tiago declara em sua epístola: “Deus
não pode ser tentado pelo mal” (Tiago 1:13).
É o mal uma tendência impessoal, ou se originou numa
pessoa?
O mal não pode ser uma tendência impessoal, porque neste caso teríamos
de admitir uma das duas:
ou Deus
é o seu autor, ou existem
duas forças opostas entre si no universo.
Noutros termos, se o mal fosse uma tendência, ou
seria ele criado por Deus (o que importaria em negar a santidade divina), ou o
dualismo seria uma verdade.
A única
explicação possível da origem do mal é a existência de um ser moral que, tendo
sido feito livre, podia opor-se a Deus.
No momento em que Deus criou um ser moral,
inteligente, livre e responsável, dotado de vontade que podia opor-se à sua, ele criou a possibilidade de se desobedecer
a essa sua vontade e, portanto, criou a possibilidade do pecado
que, como já vimos, é algo contrário a Deus ou é o afastamento de Deus.
Ser moral é o que é livre e responsável, e, portanto, tem o direito de obedecer ou de desobedecer a Deus.
Além do que, não há valor algum na obediência que não seja acompanhada da
possibilidade de desobedecer.
Visto como Deus não se pode contradizer a si mesmo,
não podia negar a um agente
livre o direito de
desobedecer-lhe; ou, noutras palavras, não podia tirar-lhe o que ele próprio
lhe houvera dado — a liberdade.
A Bíblia revela que toda vez que Deus criou um ser moral, submeteu-o
a uma prova para ver se lhe obedecia ou não, dando-lhe uma oportunidade de decidir ser
a favor ou contra Deus. (Deuteronômio 8:2; 2 Crônicas 32:31)
Foi este o caso dos anjos, e foi igualmente o caso do homem, no princípio.
O mesmo aconteceu até com o homem Jesus Cristo, quando o Espírito o impeliu ao deserto para ser tentado pelo diabo. Apesar de ser Filho, precisou aprender a obediência através de seus sofrimentos (Hebreus 5:8).
Quando Deus
criou o homem, o mal já existia, visto como,
antes da queda, proibiu-lhe comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal.
Penso que esta é a razão por que Deus proveu redenção para o
homem, porém não para Satanás e seus
anjos.
Não foi o homem que originou o espírito de revolta contra Deus, e de certo
modo foi vítima do grande adversário de Deus.
Note-se que o inferno não foi feito para o homem, mas
foi “preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:4l).
Concluímos, pois, que o mal começou com a desobediência de um ser moral, que se rebelou contra Deus e
levou o homem a lhe seguir as pegadas.
Depois de começar com um ato de desobediência,
o mal tornou-se uma tendência nos seres desobedientes. (Romanos 5:19a)
Temos aí por que todos os descendentes de Adão nascem
com uma natureza pecaminosa, como o declarou Davi: “Eu
nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5).
Deus é o único que
pode modificar e extinguir essa tendência mediante uma completa transformação chamada
nas Escrituras novo
nascimento.
O terceiro fato que precisamos admitir, com referência a este assunto, é que Deus decidiu permitir o mal, permitir que o pecado entrasse no mundo.
Admitir a santidade de Deus é reconhecer que Ele não
podia ser o originador do mal. Mas, por outro lado, crer em sua onipotência é reconhecer que o mal
não podia vir a existir sem que Ele o permitisse.
Ele decidiu, por algumas razões não plenamente reveladas*, permitir que o mal penetrasse no mundo. Todavia não
devemos esquecer que, permitindo a existência do mal, Deus é capaz de
controlá-lo e também de extingui-lo no devido tempo.
* Uma leve sugestão de porque pode ser encontrada em Filemom
1:15,16: “Pois acredito que ele veio a ser afastado de ti temporariamente,
a fim de que o recebas para sempre, não como escravo; antes, muito acima de escravo,
como irmão caríssimo.”
Que Deus tem controle do mal nos homens e nos seres malignos vemo-lo
no fato de Satanás não poder fazer qualquer mal a Jó, enquanto Deus não lho
permitiu, e ainda assim somente até onde Deus permitiu.
Mesmo para entrar nos porcos, os demônios precisaram
pedir que Cristo o permitisse (Mateus 8:31,32).
Algumas vezes Deus coíbe as ações dos homens, como
no caso de Abimeleque, a quem Ele disse: “Daí o ter impedido eu de
pecares contra mim, e não te permiti que a tocasses” (Gênesis 20:6).
Outras vezes Deus não coíbe, “Mas
Amazias não quis atendê-lo; porque isto vinha de Deus, para entregá-los nas
mãos dos seus inimigos, porquanto buscaram os deuses dos edomitas.” (2 Crônicas
25:20)
“O rei, pois, não deu ouvidos ao povo,
porque isto vinha de Deus, para que o Senhor confirmasse a palavra que tinha
dito por intermédio de Aías, o silonita, a Jeroboão, filho de Nebate.” (2 Crônicas
10:15)
“sendo este entregue pelo determinado
desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de
iníquos;” (Atos 2:23)
Que Deus é capaz de dominar até os desejos dos homens
vem declarado em Êxodo 34:24, onde lemos: “Ninguém cobiçará a tua
terra, quando subires para comparecer na presença do Senhor teu Deus três
vezes no ano”.
Outras vezes, no entanto, Deus permite que os homens
procedam como querem, abandonando-os às suas próprias tendências e desejos. Por
exemplo: “nas gerações passadas, Deus permitiu que todos os povos andassem
nos seus próprios caminhos” (Atos14:16).
Lemos também que “lhes fez o que desejavam” (Salmos 78:29).
Ainda lemos em Romanos 1:24,28 que, por causa do orgulho,
da ingratidão e da vaidade dos homens, Deus “os entregou à
imundícia, pelas concupiscências de seus próprios corações”.