👉 Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, (Apocalipse 12:1)
Agora, a cena muda para uma série de sinais que retratam uma mulher lutando contra seu adversário, o Dragão. Esta também é uma cena judaica, mas com aspectos que vão desde a queda do homem no Jardim do Éden e a subsequente promessa de um redentor. Os sinais que João vê no céu retrata eventos que aconteceram e irão acontecer na terra. É como uma síntese da história da redenção.
O que João vê é simbólico ou figurativo das realidades que estão sendo transmitidas. Esta não é uma mulher real nos céus literalmente na lua! Em vez disso, os elementos que João vê significam verdades que não são declaradas diretamente no texto, mas que são transmitidas pelo simbolismo. “Uma imagem vale mil palavras.” Neste caso, o simbolismo é retirado inteiramente do AT.
Nos capítulos 12 a 14 do livro do Apocalipse, os grandes atores do tempo da tribulação são apresentados em outra seção entre parênteses que termina em 14:20. Como muitos comentaristas notaram, eles são oito em número: (1) a mulher, representando Israel, (2) o dragão, representando Satanás, (3) o filho varão, referindo-se a Cristo, (4) Miguel, representando os anjos, (5) Israel, o remanescente da semente da mulher, (6) a besta do mar, o ditador mundial, e (7) a besta da terra, o falso profeta e líder religioso do mundo, (8) os 144 mil evangelistas judeus. Sobre esses personagens principais gira a cena tremendamente comovente da grande tribulação.
No livro do Apocalipse 5 sinais * são mencionados: 12:1 (a mulher), 3 (o dragão); 13:13-14 e 19:20 (os ‘milagres’ das bestas), 15:1 (os 7 anjos com as 7 tigelas); 16:14 (os prodígios dos demônios-rãs que ajuntam os povos para o Armagedom).
* a palavra que é traduzida “sinal” em Apocalipse 13:16,17; 14:9,11; 16:2; 19:20 e 20:4, que representa “o sinal do nome da besta” é charagma ( χάραγμα ), que além das 7 vezes que fazem essa referência, aparece outra vez no grego do NT (num total de 8) em Atos 17:29 (onde é traduzida ‘pedra esculpida’, lithō charagmati, numa referência a ídolos que não devem ser comparados ao Deus Criador no discurso sobre o ‘Deus desconhecido” de Paulo em Atenas).
Charagma significa ‘uma gravura’, ‘uma marca que fornece uma identificação inegável’, ‘um símbolo que fornece uma conexão irrefutável entre as partes’.
Era originalmente qualquer impressão em uma moeda ou um selo, usado por um gravador que utilizava um carimbo ou ferro de marcar. Mais tarde tornou-se "marca de identificação" (como com a "marca" única de um proprietário, que hoje chamamos de 'marca registrada'). Documentos antigos eram validados por tais selos ou marcas (ver Plutarco, Agesilaus 15:6; De Lysandro 16:2, ala DNTT 2, 574).
♦ uma mulher
São várias as interpretações que são dadas a identidade desta mulher, as mais notórias são as que a consideram como falando de Maria e outra que interpreta como a Igreja.
Não pode ser Maria, ainda que ela participe da história da redenção que aqui é sintetizada, porque os detalhes do contexto não o permitem e também porque existem eventos escatológicos futuros que aguardam essa mulher pelos quais Maria não poderia experimentar pelo fato de que ela já morreu e está no céu, e não na terra tribulacional.
A mulher não pode ser a Igreja, pois a Igreja não deu à luz a Cristo, o contrário. E ainda porque a Igreja não estará, igualmente, presente na terra durante a tribulação.
A maioria dos intérpretes saudáveis entendem que esta mulher fala da nação de Israel.
Primeiro por causa do contexto judaico que a revelação se encontra desde o capítulo 11 e que vai se estender por todo o capítulo 12.
Segundo por causa da interpretação dos detalhes simbólicos, como veremos a seguir.
Ademais, não é estranho as Escrituras compararem Israel com uma mulher, o que, aliás, acontece com muita frequência no VT, alguns exemplos:
“Como a mulher grávida, quando se lhe aproxima a hora de dar à luz, se contorce e dá gritos nas suas dores, assim fomos nós na tua presença, ó Senhor! Concebemos nós e nos contorcemos em dores de parto, mas o que demos à luz foi vento; não trouxemos à terra livramento algum, e não nasceram moradores do mundo.” (Isaías 26:17,18)
“Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; exulta com alegre canto e exclama, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher solitária do que os filhos da casada, diz o Senhor.” (Isaías 54:1)
“Antes que estivesse de parto, deu à luz; antes que lhe viessem as dores, nasceu-lhe um menino. Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu coisa semelhante? Pode, acaso, nascer uma terra num só dia? Ou nasce uma nação de uma só vez? Pois Sião, antes que lhe viessem as dores, deu à luz seus filhos.” (Isaías 66:7,8)
“Agora, pois, ó assolada, por que fazes assim, e te vestes de escarlata, e te adornas com enfeites de ouro, e alargas os olhos com pinturas, se debalde te fazes bela? Os amantes te desprezam e procuram tirar-te a vida. Pois ouço uma voz, como de parturiente, uma angústia como da primípara em suas dores; a voz da filha de Sião, ofegante, que estende as mãos, dizendo: Ai de mim agora! Porque a minha alma desfalece por causa dos assassinos.” (Jeremias 4:30,31)
“Quão fraco é o teu coração, diz o Senhor Deus, fazendo tu todas estas coisas, só próprias de meretriz descarada.” (Ezequiel 16:30)
“Filho do homem, houve duas mulheres, filhas de uma só mãe...Os seus nomes eram: Oolá, a mais velha, e Oolibá, sua irmã; e foram minhas e tiveram filhos e filhas; e, quanto ao seu nome, Samaria é Oolá, e Jerusalém é Oolibá.” (Ezequiel 23:2-4)
“Repreendei vossa mãe, repreendei-a, porque ela não é minha mulher, e eu não sou seu marido, para que ela afaste as suas prostituições de sua presença e os seus adultérios de entre os seus seios;” (Oséias 2:2)
♦ vestida do sol
A chave para entender a contribuição do sol para a identidade da mulher é encontrada examinando a maneira como o sol é usado nas Escrituras. Em primeiro lugar, deve-se notar que a função primária da roupa é fornecer abrigo e proteção contra elementos externos. Seja o que for que o sol represente, ele protege a mulher de alguma forma. “Porque o SENHOR Deus é sol e escudo” (Sl.84:11 a).
Quando examinamos o uso bíblico do sol, descobrimos que tanto o sol quanto a lua costumam aparecer juntos como uma dupla de testemunhas. Quando Deus criou o sol e a lua, Ele disse que eles seriam "para sinais e estações, e para dias e anos" (Gênesis1:14). A maioria de nós pode compreender prontamente como o sol é para "estações e dias e anos", mas de que maneira o sol é "para sinais?"
A palavra para sinal aqui é אוֹת [ ʾôṯ ], que indica um token ou marca, algo projetado como um memorial, para trazer à lembrança. É a mesma palavra que descreve a marca de Caim, o sinal do arco-íris (um memorial da aliança de Deus com Noé), o sinal da circuncisão (um memorial da aliança abraâmica), o sinal da Páscoa (um memorial do Êxodo) e o sinal do sábado (um memorial da aliança mosaica). Assim, uma das funções do sol é ser usado como um LEMBRETE de várias maneiras.
Deus prometeu que haveria sinais no sol e na lua no tempo do fim (Lucas 21:25). Também sabemos que houve um grande sinal através do sol quando Jesus estava crucificado (Lucas 23:45). Será que os sinais do sol no tempo do fim tenham a intenção de trazer a crucificação à mente?
Existe outra maneira pela qual o sol serve de sinal junto com a lua. Deus usa o sol e a lua como duas testemunhas de importantes promessas que fez, da mesma forma que jura pelo céu e pela terra. Deus disse que tanto o sol quanto a lua serão testemunhas (sinais) de Sua promessa incondicional de preservar a nação de Israel e de manter eternamente um governante Davídico no trono, promessas essas que só podem ser frustradas se o sol e a lua deixarem de existir diante de Deus:
“Assim diz o Senhor, que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas; Senhor dos Exércitos é o seu nome. Se falharem estas leis fixas diante de mim, diz o Senhor, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre.” (Jeremias 31:35,36)
“Assim diz o Senhor: Se puderdes invalidar a minha aliança com o dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem dia nem noite a seu tempo, poder-se-á também invalidar a minha aliança com Davi, meu servo, para que não tenha filho que reine no seu trono; como também com os levitas sacerdotes, meus ministros. Como não se pode contar o exército dos céus, nem medir-se a areia do mar, assim tornarei incontável a descendência de Davi, meu servo, e os levitas que ministram diante de mim.” (Jeremias 33:20-22)
“A sua posteridade durará para sempre, e o seu trono, como o sol perante mim. Ele será estabelecido para sempre como a lua e fiel como a testemunha no espaço.” (Salmos 89:36,37)
A referência a mulher estar 'vestida com o sol' e ter 'a lua sob ela pés' é uma forma simbólica de afirmar que a posição de Israel é certa, o conjunto de símbolos fala da INDEFECTIBILIDADE da posição de Israel nos planos de Deus.
Os judeus continuarão existindo como um povo enquanto o sol e a lua permanecerem visíveis no céu! Se os inimigos de Israel entendessem o impacto total deste versículo, eles iriam imediatamente reprogramar seus mísseis para um novo alvo: eles devem primeiro destruir o sol e a lua antes de poderem destruir a semente física de Abraão, Isaac e Jacó!
♦ com a lua debaixo dos pés
Os mesmos comentários que foram feitos com relação ao sol são válidos para a lua, assim como ela aparece junto com o sol no sonho de José citado no comentário sobre as estrelas. A lua, que no sonho de José, representa a matriarca Raquel, na realidade representa todas as mulheres da nação, que se encontram simbolizadas nos pés porque são elas que dão a sustentação genética para sua perpetuação, como, inclusive é aludido aqui na cena do parto do Messias pela nação.
A ênfase em relação à lua debaixo dos pés não é tanto de estar em uma posição de subordinação, mas de estar em uma posição de dar suporte, a mulher foi dada ao homem para o apoiar, dar suporte.
Ela está vestida (protegida) pelo sol e em pé (apoiada pela) lua. Sua posição é firme e protegida.
♦ uma coroa de doze estrelas na cabeça
Guirlanda (coroa) é στέφανος [ stephanos ]. Aqui, temos outra evidência a respeito da identificação dessa mulher. O que essas estrelas representam?
Estrelas têm uma ligação direta com o sonho de José, onde também aparecem o sol e a lua, e onde as 12 estrelas significam as doze tribos de Israel, sendo que um indivíduo específico da tribo de Judá é comparado a uma estrela:
“Teve ainda outro sonho e o referiu a seus irmãos, dizendo: Sonhei também que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam perante mim. Contando-o a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o o pai e lhe disse: Que sonho é esse que tiveste? Acaso, viremos, eu e tua mãe e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra?” (Gênesis 37:9,10)
“Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete.” (Números 24:17 / vide Apocalipse 22:16)
Doze é o número do GOVERNO SOBERANO DE DEUS. Da administração divina.
O número doze aparece no livro do Apocalipse como os doze mil judeus de cada uma das doze tribos (Apocalipse 7:5-8; 14:1), a guirlanda de doze estrelas (Apocalipse 12:1), os doze portões da Nova Jerusalém com o nome das doze tribos e assistidas por doze anjos (Apocalipse 21:12), as doze pérolas nos doze portões (Apocalipse 21:21), as doze fundações da Nova Jerusalém com o nome dos doze apóstolos (Apocalipse 21:14), o comprimento, largura e altura da cidade sendo doze mil estádios (Apocalipse 21:16) e os doze frutos da árvore da vida, dando seus frutos em cada um dos doze meses (Apocalipse 22:2).
O simbolismo primário denotado pelo número doze é sua associação predominante com os filhos de Jacó, as doze tribos de Israel (Gênesis 35:22; 49:28). Visto que Israel é eleito por Deus e que Jesus escolheu doze apóstolos, pode ser que a escolha soberana de Deus também se reflete neste valor. Mas mesmo na seleção de doze apóstolos de Jesus, pretende-se um relacionamento direto com as doze tribos de Israel (Mateus 19:28; Lucas 22:30).
No livro do Apocalipse, quase todas as ocorrências de doze, com exceção do fruto da árvore da vida, estão relacionadas às tribos de Israel e refletem o intenso “judaísmo” do livro. O cumprimento das profecias do Antigo Testamento sobre a nação de Israel é a chave para entender muito do que acontece no livro do Apocalipse. Daí a preponderância do número doze.
Alguns têm visto doze como denotando 'unidade na diversidade' em que os indivíduos (as tribos, os apóstolos) são considerados um povo unificado de Deus. Outros ainda encontraram no número a idéia de completude com as doze tribos representando todo o Israel e doze meses representando um ano completo.
Postas todas essas coisas o entendimento que alcançamos com a presença deste símbolo é que a firmeza e a proteção apresentadas pela lua e pelo sol é uma promessa garantida que se estende e é oferecida a todos os judeus, a TODA a nação.
A descendência de Abraão também é comparada a estrelas. As estrelas são sinais aos homens (Gênesis 1:14), Israel também o é (Zacarias 8:23).
“Então, conduziu Abrão até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade.” (Gênesis 15:5)
“que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos,” (Gênesis 22:17)
“Multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e lhe darei todas estas terras. Na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra;” (Gênesis 26:4)
“Lembra-te de Abraão, de Isaque e de Israel, teus servos, aos quais por ti mesmo tens jurado e lhes disseste: Multiplicarei a vossa descendência como as estrelas do céu, e toda esta terra de que tenho falado, dá-la-ei à vossa descendência, para que a possuam por herança eternamente.” (Êxodo 32:13)
As estrelas formam uma coroa (símbolo de glória, vitória, superação) sobre a cabeça da nação, porque é o destino final de Israel ser exaltada sobre todas as outras nações e participar da glória eterna de Deus, como é visto, por exemplo, na colocação dos 12 nomes das 12 tribos nas portas da Nova Jerusalém (Apocalipse 21:12).
👉 que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz. (Apocalipse 12:2)
♦ achando-se grávida
ἐν γαστρὶ ἔχουσα [ en gastri echousa ], tendo no útero. Algo que devemos notar imediatamente sobre toda essa visão é a falta de qualquer menção a um pai. Isso é muito mais atípico em um escrito judaico que lida com genealogia. A falta de um pai é significativa e, quando combinada com o resto da Escritura (Isaías 7:14; Lucas1:34), aponta fortemente para o nascimento virginal.
♦ grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz
Quando consideramos a mulher em trabalho de parto da perspectiva do grande esquema das Escrituras, pensamos imediatamente na maldição pronunciada no Éden. Pois é na maldição que temos a resposta de Deus para a queda da humanidade, a promessa da Semente da mulher, e onde vemos a primeira menção tanto ao parto quanto à dor do parto:
“Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. Então, o Senhor Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.” (Gênesis 3:13-16).
Sendo a promessa da Semente da mulher a resposta de Deus à Queda, seu desdobramento sofre oposição da parte não interessada, a serpente, que se torna inimiga da mulher, no sentido de impedir o cumprimento da promessa de Gênesis 3:15, ou seja, o nascimento da semente prometida, esforço esse que se materializou em inúmeros ataques aos ascendentes genealógicos, é o que a profecia descreve como “e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho.” (Apocalipse 12:4).
Essa promessa de um redentor deve ser vista como um pano de fundo para toda a história bíblica que flui a partir da pronúncia da maldição no Éden. Isso nunca deve ser esquecido ou negligenciado. Em todos os nascimentos e mortes subsequentes convênios, reinos e promessas, esta promessa central da semente redentora por meio da mulher é fundamental no plano de Deus. Isso, e nada menos, é o que nos é apresentado neste capítulo da visão de João.
A mulher esteve em trabalho de parto por muito tempo. Ela trabalhou desde a primeira promessa a Eva até a sua culminação na virgem Maria: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,” (Gálatas.4: 4)