quinta-feira, 14 de julho de 2022

Apocalipse 12 - Segunda apresentação dos personagens tribulacionais: A Mulher

👉 Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, (Apocalipse 12:1)

Agora, a cena muda para uma série de sinais que retratam uma mulher lutando contra seu adversário, o Dragão. Esta também é uma cena judaica, mas com aspectos que vão desde a queda do homem no Jardim do Éden e a subsequente promessa de um redentor. Os sinais que João vê no céu retrata eventos que aconteceram e irão acontecer na terra. É como uma síntese da história da redenção.

O que João vê é simbólico ou figurativo das realidades que estão sendo transmitidas. Esta não é uma mulher real nos céus literalmente na lua! Em vez disso, os elementos que João vê significam verdades que não são declaradas diretamente no texto, mas que são transmitidas pelo simbolismo. “Uma imagem vale mil palavras.” Neste caso, o simbolismo é retirado inteiramente do AT.

Nos capítulos 12 a 14 do livro do Apocalipse, os grandes atores do tempo da tribulação são apresentados em outra seção entre parênteses que termina em 14:20. Como muitos comentaristas notaram, eles são oito em número: (1) a mulher, representando Israel, (2) o dragão, representando Satanás, (3) o filho varão, referindo-se a Cristo, (4) Miguel, representando os anjos, (5) Israel, o remanescente da semente da mulher, (6) a besta do mar, o ditador mundial, e (7) a besta da terra, o falso profeta e líder religioso do mundo, (8) os 144 mil evangelistas judeus. Sobre esses personagens principais gira a cena tremendamente comovente da grande tribulação.

No livro do Apocalipse 5 sinais * são mencionados: 12:1 (a mulher), 3 (o dragão); 13:13-14 e 19:20 (os ‘milagres’ das bestas), 15:1 (os 7 anjos com as 7 tigelas); 16:14 (os prodígios dos demônios-rãs que ajuntam os povos para o Armagedom).

* a palavra que é traduzida “sinal” em Apocalipse 13:16,17; 14:9,11; 16:2; 19:20 e 20:4, que representa “o sinal do nome da besta” é charagma ( χάραγμα ), que além das 7 vezes que fazem essa referência, aparece outra vez no grego do NT (num total de 8) em Atos 17:29 (onde é traduzida ‘pedra esculpida’, lithō charagmati, numa referência a ídolos que não devem ser comparados ao Deus Criador no discurso sobre o ‘Deus desconhecido” de Paulo em Atenas).

Charagma significa ‘uma gravura’, ‘uma marca que fornece uma identificação inegável’, ‘um símbolo que fornece uma conexão irrefutável entre as partes’.

 Era originalmente qualquer impressão em uma moeda ou um selo, usado por um gravador que utilizava um carimbo ou ferro de marcar. Mais tarde tornou-se "marca de identificação" (como com a "marca" única de um proprietário, que hoje chamamos de 'marca registrada'). Documentos antigos eram validados por tais selos ou marcas (ver Plutarco, Agesilaus 15:6; De Lysandro 16:2, ala DNTT 2, 574).

uma mulher

São várias as interpretações que são dadas a identidade desta mulher, as mais notórias são as que a consideram como falando de Maria e outra que interpreta como a Igreja.

Não pode ser Maria, ainda que ela participe da história da redenção que aqui é sintetizada, porque os detalhes do contexto não o permitem e também porque existem eventos escatológicos futuros que aguardam essa mulher pelos quais Maria não poderia experimentar pelo fato de que ela já morreu e está no céu, e não na terra tribulacional.

A mulher não pode ser a Igreja, pois a Igreja não deu à luz a Cristo, o contrário. E ainda porque a Igreja não estará, igualmente, presente na terra durante a tribulação.

A maioria dos intérpretes saudáveis entendem que esta mulher fala da nação de Israel.

Primeiro por causa do contexto judaico que a revelação se encontra desde o capítulo 11 e que vai se estender por todo o capítulo 12.

Segundo por causa da interpretação dos detalhes simbólicos, como veremos a seguir.

Ademais, não é estranho as Escrituras compararem Israel com uma mulher, o que, aliás, acontece com muita frequência no VT, alguns exemplos:

“Como a mulher grávida, quando se lhe aproxima a hora de dar à luz, se contorce e dá gritos nas suas dores, assim fomos nós na tua presença, ó Senhor! Concebemos nós e nos contorcemos em dores de parto, mas o que demos à luz foi vento; não trouxemos à terra livramento algum, e não nasceram moradores do mundo.” (Isaías 26:17,18)

“Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; exulta com alegre canto e exclama, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher solitária do que os filhos da casada, diz o Senhor.” (Isaías 54:1)

“Antes que estivesse de parto, deu à luz; antes que lhe viessem as dores, nasceu-lhe um menino. Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu coisa semelhante? Pode, acaso, nascer uma terra num só dia? Ou nasce uma nação de uma só vez? Pois Sião, antes que lhe viessem as dores, deu à luz seus filhos.” (Isaías 66:7,8)

“Agora, pois, ó assolada, por que fazes assim, e te vestes de escarlata, e te adornas com enfeites de ouro, e alargas os olhos com pinturas, se debalde te fazes bela? Os amantes te desprezam e procuram tirar-te a vida. Pois ouço uma voz, como de parturiente, uma angústia como da primípara em suas dores; a voz da filha de Sião, ofegante, que estende as mãos, dizendo: Ai de mim agora! Porque a minha alma desfalece por causa dos assassinos.” (Jeremias 4:30,31)

“Quão fraco é o teu coração, diz o Senhor Deus, fazendo tu todas estas coisas, só próprias de meretriz descarada.” (Ezequiel 16:30)

“Filho do homem, houve duas mulheres, filhas de uma só mãe...Os seus nomes eram: Oolá, a mais velha, e Oolibá, sua irmã; e foram minhas e tiveram filhos e filhas; e, quanto ao seu nome, Samaria é Oolá, e Jerusalém é Oolibá.” (Ezequiel 23:2-4)

“Repreendei vossa mãe, repreendei-a, porque ela não é minha mulher, e eu não sou seu marido, para que ela afaste as suas prostituições de sua presença e os seus adultérios de entre os seus seios;” (Oséias 2:2)

vestida do sol

A chave para entender a contribuição do sol para a identidade da mulher é encontrada examinando a maneira como o sol é usado nas Escrituras. Em primeiro lugar, deve-se notar que a função primária da roupa é fornecer abrigo e proteção contra elementos externos. Seja o que for que o sol represente, ele protege a mulher de alguma forma. “Porque o SENHOR Deus é sol e escudo” (Sl.84:11 a).

Quando examinamos o uso bíblico do sol, descobrimos que tanto o sol quanto a lua costumam aparecer juntos como uma dupla de testemunhas. Quando Deus criou o sol e a lua, Ele disse que eles seriam "para sinais e estações, e para dias e anos" (Gênesis1:14). A maioria de nós pode compreender prontamente como o sol é para "estações e dias e anos", mas de que maneira o sol é "para sinais?"

A palavra para sinal aqui é אוֹת [ ʾôṯ ], que indica um token ou marca, algo projetado como um memorial, para trazer à lembrança. É a mesma palavra que descreve a marca de Caim, o sinal do arco-íris (um memorial da aliança de Deus com Noé), o sinal da circuncisão (um memorial da aliança abraâmica), o sinal da Páscoa (um memorial do Êxodo) e o sinal do sábado (um memorial da aliança mosaica). Assim, uma das funções do sol é ser usado como um LEMBRETE de várias maneiras.

Deus prometeu que haveria sinais no sol e na lua no tempo do fim (Lucas 21:25). Também sabemos que houve um grande sinal através do sol quando Jesus estava crucificado (Lucas 23:45). Será que os sinais do sol no tempo do fim tenham a intenção de trazer a crucificação à mente?

Existe outra maneira pela qual o sol serve de sinal junto com a lua. Deus usa o sol e a lua como duas testemunhas de importantes promessas que fez, da mesma forma que jura pelo céu e pela terra. Deus disse que tanto o sol quanto a lua serão testemunhas (sinais) de Sua promessa incondicional de preservar a nação de Israel e de manter eternamente um governante Davídico no trono, promessas essas que só podem ser frustradas se o sol e a lua deixarem de existir diante de Deus:

“Assim diz o Senhor, que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas; Senhor dos Exércitos é o seu nome. Se falharem estas leis fixas diante de mim, diz o Senhor, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre.” (Jeremias 31:35,36)

“Assim diz o Senhor: Se puderdes invalidar a minha aliança com o dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem dia nem noite a seu tempo, poder-se-á também invalidar a minha aliança com Davi, meu servo, para que não tenha filho que reine no seu trono; como também com os levitas sacerdotes, meus ministros. Como não se pode contar o exército dos céus, nem medir-se a areia do mar, assim tornarei incontável a descendência de Davi, meu servo, e os levitas que ministram diante de mim.” (Jeremias 33:20-22)

“A sua posteridade durará para sempre, e o seu trono, como o sol perante mim. Ele será estabelecido para sempre como a lua e fiel como a testemunha no espaço.” (Salmos 89:36,37)

A referência a mulher estar 'vestida com o sol' e ter 'a lua sob ela pés' é uma forma simbólica de afirmar que a posição de Israel é certa, o conjunto de símbolos fala da INDEFECTIBILIDADE da posição de Israel nos planos de Deus.

Os judeus continuarão existindo como um povo enquanto o sol e a lua permanecerem visíveis no céu! Se os inimigos de Israel entendessem o impacto total deste versículo, eles iriam imediatamente reprogramar seus mísseis para um novo alvo: eles devem primeiro destruir o sol e a lua antes de poderem destruir a semente física de Abraão, Isaac e Jacó!

com a lua debaixo dos pés

Os mesmos comentários que foram feitos com relação ao sol são válidos para a lua, assim como ela aparece junto com o sol no sonho de José citado no comentário sobre as estrelas. A lua, que no sonho de José, representa a matriarca Raquel, na realidade representa todas as mulheres da nação, que se encontram simbolizadas nos pés porque são elas que dão a sustentação genética para sua perpetuação, como, inclusive é aludido aqui na cena do parto do Messias pela nação.

A ênfase em relação à lua debaixo dos pés não é tanto de estar em uma posição de subordinação, mas de estar em uma posição de dar suporte, a mulher foi dada ao homem para o apoiar, dar suporte. 

Ela está vestida (protegida) pelo sol e em pé (apoiada pela) lua. Sua posição é firme e protegida.

uma coroa de doze estrelas na cabeça

Guirlanda (coroa) é στέφανος [ stephanos ]. Aqui, temos outra evidência a respeito da identificação dessa mulher. O que essas estrelas representam?

Estrelas têm uma ligação direta com o sonho de José, onde também aparecem o sol e a lua, e onde as 12 estrelas significam as doze tribos de Israel, sendo que um indivíduo específico da tribo de Judá é comparado a uma estrela:

“Teve ainda outro sonho e o referiu a seus irmãos, dizendo: Sonhei também que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam perante mim. Contando-o a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o o pai e lhe disse: Que sonho é esse que tiveste? Acaso, viremos, eu e tua mãe e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra?” (Gênesis 37:9,10)

“Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete.” (Números 24:17 / vide Apocalipse 22:16)

Doze é o número do GOVERNO SOBERANO DE DEUS. Da administração divina.

O número doze aparece no livro do Apocalipse como os doze mil judeus de cada uma das doze tribos (Apocalipse 7:5-8; 14:1), a guirlanda de doze estrelas (Apocalipse 12:1), os doze portões da Nova Jerusalém com o nome das doze tribos e assistidas por doze anjos (Apocalipse 21:12), as doze pérolas nos doze portões (Apocalipse 21:21), as doze fundações da Nova Jerusalém com o nome dos doze apóstolos (Apocalipse 21:14), o comprimento, largura e altura da cidade sendo doze mil estádios (Apocalipse 21:16) e os doze frutos da árvore da vida, dando seus frutos em cada um dos doze meses (Apocalipse 22:2).

O simbolismo primário denotado pelo número doze é sua associação predominante com os filhos de Jacó, as doze tribos de Israel (Gênesis 35:22; 49:28). Visto que Israel é eleito por Deus e que Jesus escolheu doze apóstolos, pode ser que a escolha soberana de Deus também se reflete neste valor. Mas mesmo na seleção de doze apóstolos de Jesus, pretende-se um relacionamento direto com as doze tribos de Israel (Mateus 19:28; Lucas 22:30).

No livro do Apocalipse, quase todas as ocorrências de doze, com exceção do fruto da árvore da vida, estão relacionadas às tribos de Israel e refletem o intenso “judaísmo” do livro. O cumprimento das profecias do Antigo Testamento sobre a nação de Israel é a chave para entender muito do que acontece no livro do Apocalipse. Daí a preponderância do número doze.

Alguns têm visto doze como denotando 'unidade na diversidade' em que os indivíduos (as tribos, os apóstolos) são considerados um povo unificado de Deus. Outros ainda encontraram no número a idéia de completude com as doze tribos representando todo o Israel e doze meses representando um ano completo.

Postas todas essas coisas o entendimento que alcançamos com a presença deste símbolo é que a firmeza e a proteção apresentadas pela lua e pelo sol é uma promessa garantida que se estende e é oferecida a todos os judeus, a TODA a nação.

A descendência de Abraão também é comparada a estrelas. As estrelas são sinais aos homens (Gênesis 1:14), Israel também o é (Zacarias 8:23).

“Então, conduziu Abrão até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade.” (Gênesis 15:5)

“que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos,” (Gênesis 22:17)

“Multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e lhe darei todas estas terras. Na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra;” (Gênesis 26:4)

“Lembra-te de Abraão, de Isaque e de Israel, teus servos, aos quais por ti mesmo tens jurado e lhes disseste: Multiplicarei a vossa descendência como as estrelas do céu, e toda esta terra de que tenho falado, dá-la-ei à vossa descendência, para que a possuam por herança eternamente.” (Êxodo 32:13)

As estrelas formam uma coroa (símbolo de glória, vitória, superação) sobre a cabeça da nação, porque é o destino final de Israel ser exaltada sobre todas as outras nações e participar da glória eterna de Deus, como é visto, por exemplo, na colocação dos 12 nomes das 12 tribos nas portas da Nova Jerusalém (Apocalipse 21:12).

👉 que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz. (Apocalipse 12:2)

  achando-se grávida

ἐν γαστρὶ ἔχουσα [ en gastri echousa ], tendo no útero. Algo que devemos notar imediatamente sobre toda essa visão é a falta de qualquer menção a um pai. Isso é muito mais atípico em um escrito judaico que lida com genealogia. A falta de um pai é significativa e, quando combinada com o resto da Escritura (Isaías 7:14; Lucas1:34), aponta fortemente para o nascimento virginal.

grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz

Quando consideramos a mulher em trabalho de parto da perspectiva do grande esquema das Escrituras, pensamos imediatamente na maldição pronunciada no Éden. Pois é na maldição que temos a resposta de Deus para a queda da humanidade, a promessa da Semente da mulher, e onde vemos a primeira menção tanto ao parto quanto à dor do parto:

“Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. Então, o Senhor Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.” (Gênesis 3:13-16).

Sendo a promessa da Semente da mulher a resposta de Deus à Queda, seu desdobramento sofre oposição da parte não  interessada, a serpente, que se torna inimiga da mulher, no sentido de impedir o cumprimento da promessa de Gênesis  3:15, ou seja, o nascimento da semente prometida, esforço  esse que se materializou em inúmeros ataques aos ascendentes genealógicos, é  o que a profecia descreve como “e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho.” (Apocalipse 12:4).

Essa promessa de um redentor deve ser vista como um pano de fundo para toda a história bíblica que flui a partir da pronúncia da maldição no Éden. Isso nunca deve ser esquecido ou negligenciado. Em todos os nascimentos e mortes subsequentes convênios, reinos e promessas, esta promessa central da semente redentora por meio da mulher é fundamental no plano de Deus. Isso, e nada menos, é o que nos é apresentado neste capítulo da visão de João.

A mulher esteve em trabalho de parto por muito tempo. Ela trabalhou desde a primeira promessa a Eva até a sua culminação na virgem Maria: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,” (Gálatas.4: 4)

Apocalipse 11 - Primeira apresentação dos personagens tribulacionais: As 2 testemunhas mártires (Parte 5 - A sétima trombeta)

👉 Passou o segundo ai. Eis que, sem demora, vem o terceiro ai. E o sétimo anjo tocou a sua trombeta (Apocalipse 11:14,15a)

Aqui a narrativa do livro retoma a sua linearidade cronológica, as seis primeiras trombetas foram anunciadas em Apocalipse 8:7,8,10,12; 9:1 e 13. A sétima é anunciada em Apocalipse 11:15.

Esses versículos poderiam ser Apocalipse 9:22,23...pois os três ais pronunciados pelo ser que voa pelo meio do céu em Apocalipse 8:13 anuncia as três últimas trombetas, que trazem os juízos que afetarão DIRETAMENTE os homens:

- O primeiro ai é a quinta trombeta, que traz dor inimaginável por 5 meses.

- O segundo ai é a sexta trombeta, que traz a morte de um terço da população mundial.

- E o terceiro ai é a sétima trombeta, que traz as 7 tigelas de boca larga, que derramam “o vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira” (Apocalipse 14:10; 15:7; 16:1) sobre a humanidade absolutamente impenitente e sobre o reino da besta.

E o sétimo anjo tocou a sua trombeta

Esta sétima trombeta é a mesma que é referida em Joel 2:1,2: “Tocai a trombeta em Sião e dai voz de rebate no meu santo monte; perturbem-se todos os moradores da terra, porque o Dia do Senhor vem, já está próximo; dia de escuridade e densas trevas, dia de nuvens e negridão! Como a alva por sobre os montes, assim se difunde um povo grande e poderoso, qual desde o tempo antigo nunca houve, nem depois dele haverá pelos anos adiante, de geração em geração.” (Joel 2:1,2)

O fim do primeiro ai foi anunciado em Apocalipse 9:12, quando os 5 meses de juízo da quinta trombeta terminaram.

Já o fim do segundo ai só é anunciado aqui em Apocalipse 11:14, após um parêntese que vem desde Apocalipse 10:1.

A partir de Apocalipse 12:1 temos o terceiro parêntese do livro (o primeiro foi Apocalipse 7:1-17 e o segundo foi Apocalipse 10:1 a 11:13)

👉 e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre. (Apocalipse 11:15b)

houve no céu grandes vozes

As vozes celestes são altissonantes porque o anúncio que é feito está sendo aguardado há muitos milênios e anunciam a concretização de todo o planejamento divino que envolve muitas coisas, dentre elas a glorificação do Filho, o plano de redenção e a reintegração de posse da criação, que é um dos temas do livro.

Os reinos do mundo vieram a ser

O soar da sétima trombeta proclama a vindoura coroação do legítimo rei da terra, a resposta a oração de todas as idades, 'venha o teu reino' (Mateus 6:10).

Ainda resta serem derramadas as 7 tigelas de boca larga que a sétima trombeta traz consigo, mas o anúncio celestial já vê as coisas como consumadas “vieram a ser”, pois a vontade de Deus é inexorável, pois Ele é Eterno e Todo-Poderoso (“Senhor Deus Todo-Poderoso, que és, e que eras, e que hás de vir, que tomaste o teu grande poder”). Essa forma de apresentar coisas futuras como se já tivessem acontecido é característico de algumas profecias como por exemplo a profecia que foi dada por Enoque, milhares de anos antes até da Primeira Vinda, que é citada em Judas 14 “Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades”.

O verbo grego é ἐγένετο [ egeneto ], singular, aoristo profético. O evento é tão certo no soar do sétimo anjo que é tratado como se já tivesse passado. No entanto, o reino não terá chegado na totalidade até todos os sete julgamentos das tigelas não forem derramadas e o próprio Rei retorne à terra para derrotar os exércitos das nações (Isaías 63:1-6; Zacarias 12:1-9; 14:1-8; Apocalipse 19:11-21). Esse dia é descrito por muitas passagens, das quais uma pequena amostra aparece abaixo:

“Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações. Pois do Senhor é o reino, é ele quem governa as nações.” (Salmos 22:27,28)

“Domine ele de mar a mar e desde o rio até aos confins da terra. Curvem-se diante dele os habitantes do deserto, e os seus inimigos lambam o pó. Paguem-lhe tributos os reis de Társis e das ilhas; os reis de Sabá e de Sebá lhe ofereçam presentes. E todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam.” (Salmos 72:8-11)

“para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9:7)

“Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre,” (Daniel 2:44)

“Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.” (Daniel 7:14)

“O Senhor será Rei sobre toda a terra; naquele dia, um só será o Senhor, e um só será o seu nome. Toda a terra se tornará como a planície de Geba a Rimom, ao sul de Jerusalém; esta será exaltada e habitada no seu lugar, desde a Porta de Benjamim até ao lugar da primeira porta, até à Porta da Esquina e desde a Torre de Hananel até aos lagares do rei. Habitarão nela, e já não haverá maldição, e Jerusalém habitará segura.” (Zacarias 14:9-11)

“Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.” (Lucas 1:32,33)

Israel porém, não verá o rei até que peça por ele (Mateus 23:39; Lucas13:35).

👉 E os vinte e quatro anciãos, que estão assentados em seus tronos diante de Deus, prostraram-se sobre seus rostos e adoraram a Deus, dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso, que és, e que eras, e que hás de vir, que tomaste o teu grande poder, e reinaste. E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra. (Apocalipse 11:16-18)

A profecia continua falando de coisas que ainda não aconteceram como consumadas: “tomaste o teu grande poder, e reinaste”, o verbo grego ἐβασίλευσας [ ebasileusas ], um aoristo ingressivo, na realidade significa ‘começou a reinar’ .

A ira das nações tem como resposta a ira de Deus, que se expressa pelos juízos tribulacionais e o massacre que ocorre na Segunda Vinda. O que motiva a ira das nações é o desejo de independência de Deus, a recusa a se submeter ao Seu governo (que elas veem como “ataduras” e “grilhões”) e o esforço de impedir a reintegração de posse da criação e a instituição do governo do Filho: “Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá. Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião.” (Salmos 2:1-6)

É claro que o agente motivador deles é o inferno:

“Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso. Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom.” (Apocalipse 16:13,14,16)

“E vi a besta e os reis da terra, com os seus exércitos, congregados para pelejarem contra aquele que estava montado no cavalo e contra o seu exército.” (Apocalipse 19:19)

É interessante comparar também que na profecia do Salmos 2 a conspiração é contra “o Senhor e contra o seu Ungido” e a resposta em Apocalipse 11:15 é “do Senhor e do seu Cristo”.

O propósito da resposta de Deus à conspiração é expressa resumidamente através de alguns propósitos que serão alcançados com Sua intervenção:

- responder à rebelião humana, “e veio a tua ira”;

- concluir a primeira fase do programa de ressurreições, “o tempo dos mortos, para que sejam julgados”

- galardoar os santos da Antiguidade e da Tribulação, “o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes”

- vindicar a má administração da criação que foi confiada ao homem desde o Éden, “o tempo de destruíres os que destroem a terra”

👉 Abriu-se, então, o santuário de Deus, que se acha no céu, e foi vista a arca da Aliança no seu santuário, e sobrevieram relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e grande saraivada. (Apocalipse 11:19)

foi vista a arca da Aliança

Esse desfecho da parte descritiva preliminar da sétima trombeta (que é tocada em Apocalipse 11:15 e que se desdobra em Apocalipse 16:1-21 através das tigelas) é um “gancho” que dá oportunidade para a introdução dos assuntos que serão abordados em Apocalipse 12:1-13:18, que são extremamente pertinentes à nação de Israel. Tanto é que o símbolo maior do judaísmo e da nação (a arca da aliança) é citado.

É interessante observar a conexão entre os dois símbolos máximos de Israel sendo citados antes e depois do parêntese: a arca (em Apocalipse 11:19) e o Monte Sião (em Apocalipse 14:1).

 

Apocalipse 11 - Primeira apresentação dos personagens tribulacionais: As 2 testemunhas mártires (Parte 4 - A oposição da Besta)

👉 Quando tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar, a besta que surge do abismo pelejará contra elas, e as vencerá, e matará, (Apocalipse 11:7)

a besta

Besta é θηρίον [ thērion ], que era usado para animais selvagens (Apocalipse 6:8), incluindo aqueles que lutaram na arena romana. O termo também é usado para descrever os animais que foram revelados em visões a Daniel (LXX: Daniel 7:3,5-7,11-12,17,19,23). É a forma diminutiva de θήρ [ thēr ], mas equivalente em significado. Deve ser contrastado com o diminutivo de Cordeiro, ἀρνίον [ arnion ].

Este nome "a Besta" contrasta o Anticristo com o verdadeiro Cristo como "o Cordeiro"; e é um fato significativo que, de longe, a grande maioria das passagens onde o Senhor Jesus é assim designado também se encontram aqui em Apocalipse. O “Cordeiro” é o Salvador dos pecadores; a “Besta” é o perseguidor e matador dos santos. O “Cordeiro” chama a atenção para a mansidão de Cristo; a “Besta” fala da ferocidade do Anticristo. Segundo a Lei, os cordeiros eram cerimonialmente limpos e usados ​​em sacrifícios, mas as bestas ferozes eram impuras e impróprias para os sacrifícios. 

O artigo definido (A besta) implica que, mesmo sendo esta a sua primeira introdução no texto por João, que ela é uma figura reconhecida: esta besta não foi mencionada antes, mas ela é apresentada como "a besta", porque já havia sido descrita por Daniel (7:3,11), e ela o é totalmente na parte subsequente do Apocalipse, a saber, Apocalipse 13:1; 17:8. Assim, João imediatamente se apropria das profecias do Antigo Testamento; e também, vendo todo o seu assunto de relance, menciona como coisas familiares (embora ainda não para o leitor) objetos a serem descritos por ele mesmo. É uma prova da unidade que permeia todas as Escrituras.

que surge do abismo, origem sobrenatural?

O aspecto mais controverso do Anticristo se preocupa com sua origem. Claramente ele é capacitado por Satanás (Daniel 8:24; 2 Tessalonicenses 2:9; Apocalipse 13:2,4).

O Abismo nunca está associado a seres humanos, está sempre associado aos anjos caídos, com exceção do Anticristo. Sua ascensão do poço sem fundo sugere uma conexão com anjos caídos que também estão associados ao Abismo.

De acordo com seu título de “Anticristo”, a Besta será um imitador de Cristo (por exemplo, o objeto de adoração, o domínio de todo o mundo, um trono) pois ele é um pupilo de Satanás, que sabemos que tem uma tendência para a imitação, fruto de seu esforço de ser “semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:14)

- Cristo semeia a 'boa semente' (Mateus 13:24), então também lemos sobre o inimigo saindo para semear o seu 'joio' - uma imitação do trigo (Mateus 13:25).

- Lemos sobre 'os filhos de Deus', então também lemos sobre 'os filhos do iníquo' (Mateus 13:38).

- Lemos sobre Deus trabalhando em Seus filhos 'tanto o querer como o efetuar, de acordo com a Sua boa vontade' (Filipenses 2:13), então também somos informados de que o Príncipe do poder do ar é 'o espírito que agora opera nos filhos da desobediência' (Efésios 2:2).

- Lemos sobre o Evangelho de Deus, então também lemos que Satanás tem um evangelho - 'Outro evangelho, que não é outro' (Gálatas 1:6,7).

- Cristo escolheu apóstolos então Satanás também tem seus falsos apóstolos (2 Coríntios 11:13).

- É dito que 'o Espírito esquadrinha até 'as coisas profundas de Deus' (1 Coríntios 2:10), então Satanás também fornece suas 'coisas profundas' (Apocalipse 2:24).

- Somos informados de que Deus, por Seu anjo, vai 'selar' os Seus servos em suas testas (Apocalipse 7:3), então também lemos que Satanás colocará uma marca na testa de seus devotos (Apocalipse 13:16).

- O Pai busca 'adoradores' (João 4:23), o mesmo acontece com Satanás (Apocalipse 13:4).

- Cristo citou as Escrituras, assim também fez Satanás (Mateus 4:6).

- Cristo é a Luz do mundo, então Satanás também se transforma em um 'anjo de luz' (2 Coríntios 11:14).

- Cristo é denominado 'o Leão da tribo de Judá' (Apocalipse 5:5), então o Diabo também é referido como 'um leão que ruge' (1 Pedro 5:6).

- Lemos sobre Cristo e 'Seus anjos' (Mateus 24:31), então também lemos sobre o Diabo e 'seus anjos' (Mateus 25:41; apocalipse 12:7).

- Cristo fez milagres, assim também Satanás (2 Tessalonicenses 2:9).

- Cristo está sentado em um 'trono', assim também Satanás tem um trono (Apocalipse 2:13).

- Cristo tem uma Igreja, então Satanás tem a sua 'sinagoga' (Apocalipse 2:9).

- Cristo tem uma 'noiva', então Satanás tem sua 'prostituta' (Apocalipse 17:16).

- Deus tem uma cidade, a Nova Jerusalém, então Satanás tem uma cidade, Babilônia (Apocalipse 17:5; 18:2).

- Tem o 'mistério da piedade' (1 Timóteo 3:16), então também há um 'mistério de iniquidade' (2 Tessalonicenses 2:7).

- Deus tem um Filho unigênito, então lemos sobre 'o Filho da Perdição' (2 Tessalonicenses 2:3).

- Cristo é chamado de 'a semente da mulher' então o Anticristo será 'a semente da serpente' (Gênesis 3:15).

- É o Filho de Deus também o Filho do Homem, então o filho de Satanás também será o 'Homem do Pecado' (2 Tessalonicenses 2:3).

- Tem a Sagrada Trindade, então há também uma Trindade Maligna (Apocalipse 20:10). Nesta Trindade do Mal, o próprio Satanás é supremo, assim como na Santíssima Trindade o Pai é (governamentalmente) supremo: observe que Satanás é várias vezes referido como pai (João 8:44,). Para seu filho, o Anticristo, Satanás dá sua autoridade e poder para representar e agir por ele (Apocalipse 13:4) assim como o Filho recebeu do Pai "todo o poder no céu e na terra", e os usa para Sua glória. O Dragão (Satanás) e a Besta (Anticristo) são acompanhados por um terceiro, o Falso Profeta, e assim como a terceira pessoa na Santíssima Trindade, o Espírito, testemunha a pessoa e obra de Cristo e O glorifica, assim o fará a terceira pessoa na Trindade Maligna testemunhando a pessoa e obra do Anticristo e glorificando-o (Apocalipse 13:11-14).

A natureza da conexão do Anticristo com Satanás, a sua origem, e seus poderes sobrenaturais, levaram alguns a concluir que a sua origem vai imitar a encarnação de Cristo, mas parece mais provável que a ascensão da besta do Abismo denota o seu reavivamento (ou ressurreição) ao invés de sua concepção.

Sua ascensão do Abismo (Apocalipse 11:717:8) está relacionada como uma, de uma série de eventos relativos à história de Sua vida (Apocalipse 17:8):

1.    A besta “era”.

2.    A besta “não é”.

3.    A besta “está para emergir do abismo sem fundo”.

4.    A besta “caminha para a perdição” (Ap 17:1119:2020:10).

Sendo que a sequência gramatical de Apocalipse 17:8 reflete sua história real, implica que a besta tem existência antes da ferida mortal (“era”), recebe uma ferida que o mata, deixa de existir (“não é”), ascende do Abismo (é ressuscitada) e é finalmente destruída.

Sua ascensão do Abismo pode estar conectada com seu reaparecimento no palco da história, e não com sua origem inicial. A Escritura indica que a besta receberá uma ferida grave que resulta em sua morte. Seu milagroso renascimento da ferida contribui para sua adoração:

“Ai do inútil pastor que deixa o rebanho! UMA ESPADA será contra seu braço e contra seu olho direito *; seu braço murchará completamente e seu olho direito ficará totalmente cego.” (Zacarias 11:17)

* Diante da riqueza de detalhes dos eventos que temos a respeito deste indivíduo, deste período e em especial, dos eventos que acontecem no meio da semana, é possível especular um provável atentado de um extremista de direita judeu contra o Anticristo por ocasião da sua profanação do Santo dos Santos do Templo tribulacional, o que seria também um bom pretexto, da parte dele, para o rompimento do acordo com a nação de Israel. Que os judeus são extremamente zelosos com relação as questões religiosas, principalmente quando o assunto é o templo, é bastante sabido pelas guerras dos Macabeus e dos eventos que envolveram Antíoco Epifânio, por exemplo. Nas Escrituras podemos ler a agitação e o tumulto que foi criado pelos judeus, a ponto da cidade de Jerusalém ser considerada amotinada pelos romanos, apenas porque os judeus suspeitaram que Paulo havia introduzido gentios no templo! (Atos 21:27-34).

“E eu vi uma das suas cabeças como se tivesse sido mortalmente ferida *, e seu ferimento mortal foi curado. E todo o mundo maravilhou-se e seguiu a besta.” (Apocalipse 13:3)

* [ ὡς ἐσφαγμένην [ hōs esphagmenēn ], a frase é idêntica a que descreve o "Cordeiro como se tivesse sido morto” (Apocalipse 5:6). É a forma como o grego denota a aparência depois de ter sido morto e trazido de volta à vida. Não há razão para considerar isso apenas uma “ferida” aqui quando descreve o Cordeiro “morto” ali. A Besta passa pela mesma experiência de morte e ressurreição que Cristo; gramaticalmente, ou morreram e ressuscitaram os dois ou, nenhum dos dois!

O que podemos entender é que, assim como "o Espírito... ressuscitou a Jesus dentre os mortos" (Romanos 8:11a), da mesma forma, “um espírito” (do abismo) ressuscitará a Besta dentre os mortos.]

“E ele engana aqueles que habitam na terra por aqueles sinais que lhe foi concedido fazer à vista da besta, dizendo àqueles que habitam na terra para fazerem uma imagem à besta que foi ferida pela espada e sobreviveu.” (Apocalipse13:14)

“A besta que você viu era, e não é, e vai ascender do abismo e irá para a perdição. E aqueles que habitam na terra vão se maravilhar, cujos nomes não estão escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, quando virem a besta que era, e não é, e ainda é.” (Apocalipse 17:8)

Parece melhor entender a ascensão da besta do Abismo como denotando o meio sobrenatural demoníaco pelo qual ele retorna dos mortos. Sua restauração de uma ferida fatal será uma contrafação da morte e da ressurreição de Cristo dentre os mortos e resultará em uma adoração ainda maior: “E eu vi uma das suas cabeças como se tivesse sido mortalmente ferida, e seu ferimento mortal foi curado. E todo o mundo maravilhou-se e seguiu a besta. Assim, eles adoraram o dragão que deu autoridade para a besta; e eles adoraram a besta, dizendo: 'Quem é como a besta? Quem pode fazer guerra com ela?'” (Apocalipse 13:4).

Como o Cristo ressuscitado que reteve as marcas de identificação de Sua morte, também a Besta revivida reterá as marcas de feridas que causaram sua morte (Zacarias 11:17). Elas servirão para autenticar sua identidade como o líder que foi anteriormente morto.

Após sua morte, ele voltará à vida. Quando ele fizer isso, ele voltará em uma forma demoníaca ao invés de uma forma puramente humana para estabelecer seu domínio mundial. Isso explica porque o abismo, a morada dos demônios (Lucas 8:31; Apocalipse 9:1,2,11) é a sua origem.

Se a restauração da besta deve resultar numa maior impressão sobre a população do mundo *, então parece que sua ferida fatal deve ser testemunhada pelos mesmos indivíduos, e que, tanto sua aparição inicial no palco da história quanto sua subsequente morte e restauração devem ocorrer durante a mesma época.

* Muitos acham improvável essa interpretação argumentando que somente Deus tem o poder para ressuscitar alguém da morte e que, nunca nos casos de ressurreição que estão relatados nas Escrituras, lemos o caso da ressurreição de um perdido. Mas não podemos nos esquecer que estamos em uma época especial em que Deus está tratando judicialmente com uma geração perdida que se recusou a dar ouvidos ao amor da verdade e que está entregue a operação de um ‘forte engano satânico’, o que poderia incluir a permissão para uma ressurreição deste tipo.

“Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça.” (2 Tessalonicenses 2:9-12) 

Ademais, se o Falso Profeta é capaz de dar fôlego a inanimada imagem da besta (Apocalipse 13:15), então Deus também não poderia permitir Satanás para exercer o necessário poder para ressuscitar um morto?

Quando tiverem, então, concluído

Como temos visto ao longo do livro do Apocalipse, a capacidade das forças do mal que se manifestam durante o tempo do fim está inteiramente dentro da soberania de Deus. Estas duas testemunhas não podem ser mortas até que tenham terminado sua tarefa dada por Deus. Assim como foi com Cristo (João 7:30; 8:20; 17:4) e assim como é com todos os crentes (Lucas 21:16-18; João 21:18-23; Atos 20:24; 23:11; 27:20-24; 2 Timóteo 4:6,7).

o testemunho que devem dar

Estas duas testemunhas estão entre os “pés formosos” que pregam o evangelho da paz (Romanos 10:15) para Israel. Seu ministério envolve toda a terra, mas ocorre em Jerusalém e tem todas as marcas dos profetas judeus do Antigo Testamento. Eles são um elemento-chave no plano do Libertador de “desviar de Jacó a impiedade” (Romanos 11:26) em preparação para o Reino Milenar por vir. O propósito de Deus de salvar a nação de Israel e fazer dela o centro ao redor do qual Ele reunirá todas as nações, não foi frustrado na Primeira Vinda, mas adiado. A pregação das duas testemunhas apresenta os estágios iniciais no desenvolvimento deste glorioso propósito terreno.

pelejará contra elas, e as vencerá, e matará

Uma marca registrada da besta, e do dragão que a fortalece, é sua oposição incessante ao povo de Deus. Além dessas duas testemunhas, ele faz guerra contra os santos em geral (Daniel 7:21,25; Apocalipse 7:9-16; 12:11; 13:7; 20:4), e contra os judeus em particular (Jeremias 30:7; Daniel 7:25; 8:24; 12:1; Apocalipse 12:13,17). 

O martírio das duas testemunhas será o primeiro ato de perseguição da Besta, após ele quebrar sua aliança com os judeus. O governo absoluto da besta só se torna possível pela execução das duas testemunhas pela Besta, pois enquanto as testemunhas exercerem tal poder sobre os homens e a natureza, é impossível para a besta adquirir poder mundial, porque enquanto elas ainda vivem seu poder é questionável, pois seriam uma resposta a pergunta das multidões ‘quem pode pelejar contra a Besta?’...as testemunhas! Mas, com sua morte, o fascínio das multidões é absoluto, pois a habilidade da besta em matá-los é um testemunho de sua invencibilidade. Ele é visto como um "salvador" desses detestáveis profetas e sua derrota sem dúvida elevam seu status perante os habitantes da terra.

👉 e o seu cadáver ficará estirado na praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado. (Apocalipse 11:8)

e o seu cadáver ficará estirado na praça

A falta de sepultamento é particularmente repugnante para os judeus. Um cadáver permanecer insepulto após o sepultamento, e assim se tornar alimento para os animais predadores, era o clímax da indignidade ou julgamento (1 Reis 14:11; 16:4; 2 Reis 9:37; Salmos 79:3; Jeremias 7:33; 8:1; 16:4,6; 22:19; Ezequiel 29:5; Apocalipse 11:9). A besta e os habitantes da terra propositalmente deixam os corpos das testemunhas insepultas como desonra e insulto intencional (Isaías 14:20; Jeremias 8:2; 14:16). Esta é outra indicação do contexto judaico.

Existem pelo menos duas razões pelas quais o sepultamento é negado no testemunhas:

1) Sensibilidades judaicas - Uma razão pela qual seus corpos permanecerão insepultos é como um insulto intencional às sensibilidades judaicas que consideram a falta de sepultamento uma indicação de ser julgado ou amaldiçoado (1 Reis 21:19; 2 Reis 9:34-37; Ezequiel 32:4,5; 33:27; 39:4,17-20; Apocalipse 19:17-21).

2) Troféus para a Besta - Não apenas seus corpos não serão enterrados, mas parece que eles serão proativamente protegidos de perturbações por necrófagos, como pássaros e cães que normalmente desceriam sobre as carcaças desprotegidas (2 Reis 9:10; Salmos 79:2; Jeremias 7:33; Apocalipse 19:17-18). Eles são impedidos de sepultamento e protegidos de necrófagos porque servem como troféus que testemunham ao poder da besta e a vitória do mundo sobre o tormento que eles trouxeram com sua pregação. Enquanto permanecem inertes na calçada, fornecem uma confirmação visual da superioridade da besta (Apocalipse 13:4).

da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito

πνευματικῶς [ pneumatikōs ] significa "de uma maneira consistente com o Espírito” o que mostra que avaliar as verdadeiras condições espirituais é uma função do Espírito Santo, que foi representado por “sete olhos que são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra” em Apocalipse 5:8. Nem Sodoma nem Egito é o nome verdadeiro da cidade, mas é neste sentido, visto pelo Espírito, que Jerusalém é chamada de “Sodoma e Egito”.

Tanto Sodoma quanto Egito tipificam cidades e nações que foram contestadas e julgadas por Deus. Sodoma era uma cidade extremamente perversa que foi destruída por seus pecados pelo julgamento de Deus (Gênesis 13:13; 19:24). Egito foi a nação que manteve Israel em cativeiro e foi julgado pelas pragas do Êxodo (Êxodo 1:13-14; 3:7; 20:2).

Jerusalém, em seu estado ímpio, é comparada tanto à cidade perversa quanto à nação perversa, por causa da injustiça e da idolatria bestial com a qual estará envolvida na tribulação.

Sodoma simboliza a injustiça em geral:

“Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? Então disse o Senhor: Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles.” (Gênesis 18:25,26)

“E entre os profetas de Jerusalém vi também algo horrível: eles cometem adultério e vivem na mentira, e em falsidade. Estimulam os que praticam o mal, para que nenhum deles reflita e se converta de sua impiedade. Para mim são todos como Sodoma; e o povo de Jerusalém é como Gomorra!” (Jeremias 23:14,15)

O Egito simboliza a idolatria:

A comparação com o Egito lembra o idólatra bezerro dourado que Israel fez ao sair do Egito, por causa da familiaridade que eles tinham com a imensa idolatria egípcia: “Ao qual nossos pais não quiseram obedecer, antes o rejeitaram e em seu coração se tornaram ao Egito, dizendo a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque a esse Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu.” (Atos 7:39,40; Êxodo 32:4,24).

onde também o seu Senhor foi crucificado

Apesar de que o método principal de extermínio que o Anticristo vai utilizar será a decapitação (“Vi ainda as almas dos decapitados” - Apocalipse 20:4), ele concede um tratamento especial para esses oponentes tão indigestos e que lhe trouxeram tanto desprazer, desafiando sua autoridade por longos três anos e meio, e os mata com os requintes de crueldade que são possíveis pela crucificação!

Ainda assim, isso está perfeitamente de acordo com o planejamento divino, que é despertar a nação de Israel a respeito do equívoco histórico que cometeram há dois mil anos: terem matado o Messias.

E a injusta crucificação das duas testemunhas completa uma analogia que aponta diretamente para o personagem que o judeu desprezou por tanto tempo:

- Um ministério de 3 anos e meio.

- Muitas demonstrações de poder divino endossados pela diretriz da Palavra (a Lei e os Profetas).

- A morte por crucificação.

- O vilipêndio público.

- A ressurreição após 3 dias.

- Subir ao céu numa nuvem.

- O terremoto.

👉 Então, muitos dentre os povos, tribos, línguas e nações contemplam os cadáveres das duas testemunhas, por três dias e meio, e não permitem que esses cadáveres sejam sepultados. (Apocalipse 11:9)

povos, tribos, línguas e nações

Quatro é o número da TOTALIDADE GLOBAL, há os quatro cantos da terra (Ezequiel 7:2; Apocalipse 7:1), aos quais Satanás viaja para reunir os oponentes de deus para a batalha final (Apocalipse 20:8), os quatro ventos da terra (Ezequiel 37:9; Mateus 24:31; Apocalipse 7:1), os quatro anjos junto ao grande Rio Eufrates (Apocalipse 9:14), que era um dos quatros rios originais do Éden (Gênesis 2:10-14). Para não falar dos quatro elementos, os quatro pontos cardeais e as quatro estações, que não são citados sumariamente nas Escrituras.

As quatro criaturas vivas, emblemas de toda a vida das criaturas (Apocalipse 4:6), e cada uma destas com quatro faces e quatro asas (Ezequiel 1:5-6). Os quatro cavaleiros que saem por toda a terra. As quatro primeiras trombetas, que afetam todo o ecossistema e, indiretamente o homem. As quatro bestas da visão de Daniel 7 que correspondem aos quatro metais que compõem a estátua de Nabucodonosor, e que representa todo o poder gentílico a dominar sobre a nação de Israel. E, por fim, os quatro evangelhos, que se destina a todos os homens de toda a terra.

Povos, tribos, línguas e nações é uma designação quádrupla que indica o escopo global - todos os povos da terra. Esta é a comunidade global para a qual João foi dito que “deve profetizar novamente sobre” (Apocalipse 10:11), da qual uma multidão inumerável é salva durante a tribulação (Apocalipse 7:9), pois o Cordeiro os comprou com Seu sangue (Apocalipse 5:9), a qual um anjo prega o Evangelho Eterno (Apocalipse 14:6), sobre a qual a besta é concedida autoridade (Apocalipse 13:7), e sobre a qual a prostituta senta (Apocalipse 17:2,15).

contemplam

Essa contemplação a nível global era impossível até a meros 100 anos atrás...hoje, isso é facilmente realizável com a tecnologia que a humanidade tem disponibilizada. Não é difícil de imaginar as pessoas eufóricas disputando um espaço junto aos cadáveres para tirar uma “selfie” a fim de compartilhá-la pelas mídias digitais...

não permitem que esses cadáveres sejam sepultados

Sepultura é μνῆμα [ mnēma ] que tem o propósito de ser como um sinal de lembrança. Mas em vez de ter seu próprio memorial particular, eles servem como um memorial público à vitória da besta, e isto por iniciativa dos admiradores da besta.

Essas atitudes de eufórica contemplação e de vilipêndio de dois pregadores da Palavra de Deus martirizados brutalmente, dá um indício do grau de banalização do mal e da dessensibilização das consciências desta geração.

👉 Os que habitam sobre a terra se alegram por causa deles, realizarão festas e enviarão presentes uns aos outros, porquanto esses dois profetas atormentaram os que moram sobre a terra. (Apocalipse 11:10)

Os que habitam sobre a terra

Esta expressão técnica denota a população global do tempo do fim que consistentemente se opõe a Deus por causa de sua impenitência (Apocalipse 9:20,21), persegue e mata os crentes da tribulação (Apocalipse 6:10), se alegra com a morte das duas testemunhas de Deus (Apocalipse 11:10), faz uma imagem a besta (Apocalipse 13:14), adora a besta (Apocalipse 13:8), ou seja, rejeita as coisas do céu em favor das coisas da terra. Eles são aqueles para quem o tempo de teste é propositalmente projetado (Apocalipse 3:10), consequentemente, não têm os seus nomes escritos no Livro da Vida (Apocalipse 17:8). É sobre eles que lamentos angélicos são dirigidos, por causa de sua condição e dos juízos que irão sofrer (Apocalipse 8:13; 9:12; 11:14; 12:12).

se alegram por causa deles, realizarão festas e enviarão presentes uns aos outros

εὐφραίνονται [ euphrainontai ], a mesma palavra descreve o “coma, beba e divirta-se”  de Lucas12:19. É usada no sentido de alegrar-se, celebrar, exultar, jubilar (Atos 2:26).

Embora o tempo do fim seja caracterizado por guerras, rupturas e inimizades odiosas, os inimigos do mundo se unirão em seu ódio por essas duas testemunhas e se juntarão regozijando-se em sua morte, da mesma forma que Pilatos e Herodes, antes inimigos, se reconciliaram por ocasião da morte de Jesus (Lucas 23:12), mas embora eles se alegrem por alguns dias, sua celebração hedionda será de curta duração, assim como a alegria do inferno o foi naquela outra ocasião (Jó 20:4,5).

👉 Mas, depois dos três dias e meio, um espírito de vida, vindo da parte de Deus, neles penetrou, e eles se ergueram sobre os pés, e àqueles que os viram sobreveio grande medo; (Apocalipse 11:11)

três dias e meio

Três é o número da VIDA. Em associação com o número três, observamos que nos seis dias de criação, Deus pronuncia o trabalho de cada dia como "bom", com exceção do dia dois (Gênesis 1:6-8). Parece que o pronunciamento esperado para o segundo dia é retido até o terceiro dia. Assim, o terceiro dia é declarado "bom" duas vezes (Gênesis 1:10,12). Alguns chamam o terceiro dia, o “dia da bênção dobrada". Parece que nossa atenção é atraída para o terceiro dia e é pronunciado como “duplamente” bom porque o terceiro dia é o dia em que a vida aparece pela primeira vez. Não apenas a vida aparece pela primeira vez no terceiro dia da semana da criação, mas Jesus ressuscita no terceiro dia. O levantamento das duas testemunhas no terceiro dia (Apocalipse 11:11) correlaciona-se com esta associação de vida ou ressurreição com o terceiro dia.

👉 e as duas testemunhas ouviram grande voz vinda do céu, dizendo-lhes: Subi para aqui. E subiram ao céu numa nuvem, e os seus inimigos as contemplaram. (Apocalipse 11:12)

subiram ao céu numa nuvem

Sua ascensão ao céu é intencionalmente muito parecida com a de Jesus após Sua ressurreição (Atos 1:9Apocalipse 12:5), bem como da Igreja no Arrebatamento (1 Tessalonicenses 4:17), pois a nuvem fala da presença divina e, é para ela que eles são chamados.

Com certeza, sua ressurreição é o maior momento de seu ministério, uma vez que manifestam o poder de Deus e se sobrepõem a contrafação realizada por satanás ao trazer a Besta do Abismo. Este maior e último testemunho, não é ineficaz, pois contribui para criar temor em quem sobrevive ao terremoto que se segue, e resulta na única rendição de glória e de reconhecimento de Deus pelos incrédulos tribulacionais que o livro narra...um primeiro passo em direção a libertação e salvação da nação de Israel.

👉 Naquela hora, houve grande terremoto, e ruiu a décima parte da cidade, e morreram, nesse terremoto, sete mil pessoas, ao passo que as outras ficaram sobremodo aterrorizadas e deram glória ao Deus do céu. (Apocalipse 11:13)

Essa é uma profecia muito específica: um terremoto que afeta a décima parte de Jerusalém e que mata sete mil pessoas. Com certeza o livro do Apocalipse será um poderoso instrumento que os santos da tribulação usarão em seu evangelismo (Daniel 12:13), que poderão usa-lo para apresentar por antecipação eventos tão específicos a fim de gerar fé.

 

Apocalipse 11 - Primeira apresentação dos personagens tribulacionais: As 2 testemunhas mártires (Parte 3 - O ministério das testemunhas)

 👉 Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco. São estas as duas oliveiras e os dois candeeiros que se acham em pé diante do Senhor da terra. (Apocalipse 11:3,4)

duas testemunhas

Existem duas testemunhas porque dois é o número de testemunhas prescrito pela Lei de Moisés (Números 35:30; Deuteronômio 17:6; 19:5; e conforme Mateus 18:16; 2 Coríntios 13:1).

Testemunha é μάρτυσιν [ martysin ] de onde obtemos a palavra mártir. Como muitas das testemunhas de Deus durante a Tribulação, esses dois indivíduos serão firmes em sua fé até morte (Apocalipse 11:7 conforme Apocalipse 2:10; 12:11; 20:4). Eles não podem ser mortos até que "eles terminem seu testemunho ( μαρτυρίαν [ martyrian ])” (Apocalipse 11:7).

por mil duzentos e sessenta dias

Esta é a primeira metade da semana final das setenta semanas de Daniel, não pode ser a segunda metade da semana, como alguns intérpretes sugerem porque:

- É mais natural entender o martírio dos profetas judeus como um prelúdio que leva à contaminação do templo judaico pela abominação desoladora que vem a seguir. Antes de seus martírios, eles são invencíveis e quase certamente não permitiriam que a besta invadisse o Lugar Santo para se declarar Deus.

- Por que as duas testemunhas, que são fundamentais para o despertar dos judeus durante a tribulação, se encontrariam em Jerusalém quando os judeus estivessem em fuga devido a intensa perseguição do dragão que começa na segunda metade da semana?

- Como a besta poderia vencer as testemunhas no final da semana e o mundo dar uma grande festa no momento em que o Anticristo está fortemente envolvido com a campanha do Armagedom e a chegada de Cristo?

- A derrubada dos profetas contribuiria mais naturalmente para a ascensão e fama da besta, pois o mundo as odeia a ponto de dar uma festa comemorando as suas mortes; o que também caracteriza o poder da Besta por ter conseguido vencer as invencíveis testemunhas, que se defendiam sobrenaturalmente.

- É ilógico raciocinar em Cristo retornando com os santos ressuscitados no final da semana, enquanto as duas testemunhas estando sendo levantadas e sendo elevadas ao céu...

São estas as duas oliveiras e os dois candeeiros

As duas oliveiras e os dois candeeiros falam do TESTEMUNHO NO ESPÍRITO por meio destes dois indivíduos para despertar Israel.

Na Primeira Vinda esta missão de testemunho no Espírito foi cumprida na vida de João Batista (João1:7-8; 5:35) e também em Jesus (João1:9; 3:19).

Na ausência de Jesus, a Igreja, como seu embaixador e testemunha no Espírito (2 Coríntios 5:20a; Atos 1:8) apresentou a luz do testemunho até que foi retirada (Apocalipse1:13,20; 2:5). 

Tendo chegado ao fim da Era da Igreja, o foco mudou de volta para Israel, na preparação de uma nação fiel adequada para o Reino Milenar que está por vir, assim como ela estava sendo preparada na primeira vinda.

em pé diante

Estar de pé diante do Senhor descreve uma posição de serviço ao Senhor (Deuteronômio 10:8; 1 Reis 17:1; Apocalipse 8:2). 

👉 Se alguém pretende causar-lhes dano, sai fogo da sua boca e devora os inimigos; sim, se alguém pretender causar-lhes dano, certamente, deve morrer. Elas têm autoridade para fechar o céu, para que não chova durante os dias em que profetizarem. Têm autoridade também sobre as águas, para convertê-las em sangue, bem como para ferir a terra com toda sorte de flagelos, tantas vezes quantas quiserem. (Apocalipse 11:5,6)

se alguém pretende causar-lhes dano

O verbo θέλει [ thelei ] ('pretende') está presente como indicativo e indica que haverá tentativas de alguns de matar as duas testemunhas, pois são figuras estranhas a esse mundo governado pelo inferno.

sai fogo...fechar o céu...converter em sangue...ferir com flagelos

O caráter do ministério das testemunhas parece intencionalmente lembrar o de Moisés e Elias, uma vez que o ministério das duas testemunhas é uma reminiscência dos ministérios de Elias (consumir com fogo e fechar o céu para não chover por 3 anos e meio – 2 Reis 1:9-14; Tiago 5:17) e de Moisés (converter água em sangue e ferir a terra com flagelos – Êxodo 7:20; 8:1-10:29), sua mensagem será, sem dúvida, a da lei e dos profetas - os escritos que são frequentemente mencionados como um testemunho divino duplo e seguro em outros lugares das Escrituras (Mateus 5:17; 7:12; 11:13; 22:40; Lucas 16:16,29; 24:44; João 1:45; Atos 13:15; 24:14; 26:22; 28:23; Romanos 3:21).

Existe uma discussão muito grande com relação a identificação destas duas testemunhas:

- alguns intérpretes argumentam que devam ser Enoque e Elias (pois ambos não morreram, o que transgride o princípio de Hebreus 9:27 onde é dito que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez”, mas, e todos aqueles que foram ressuscitados ao longo da história e morreram duas vezes, como Lázaro, por exemplo? e o que dizer dos santos que sobem vivos no arrebatamento? Então, Hebreus 9:27 é um princípio geral e não uma regra absoluta e, necessariamente, por esse motivo, as duas testemunhas não têm que ser Enoque e Elias...

- alguns outros intérpretes argumentam que devam ser Moisés e Elias, por causa da semelhança dos milagres e porque eles deixaram a terra de maneira incomum. Elias nunca morreu, mas foi transportado para o céu em um redemoinho com carros e cavalos de fogo (2 Reis 2:11,12), e Deus enterrou sobrenaturalmente o corpo de Moisés em um local secreto (Deuteronômio 34:5-6; Judas 9). Moisés apareceu com Elias na transfiguração (Mateus 17:3), a lei (Moisés) e os profetas (Elias) estariam se juntando para testemunhar de Cristo, e a transfiguração está conectada com a segunda vinda (2 Pedro 1:16-19) assim como o testemunho dos dois mártires tribulacionais também está, pois anunciam a proximidade do reino dos céus e a necessidade de arrependimento, da mesma forma que João Batista na primeira vinda...

- Mas, independentemente da identidade real das duas testemunhas do Apocalipse, pode ser que a semelhança de seus ministérios com os de Moisés e Elias apenas tenham a intenção de enfatizar seu papel como testemunhas da lei e dos profetas perante os judeus da geração tribulacional. Foi assim que aconteceu com João Batista, a quem sua geração reconhecia como dotado de um ministério segundo o padrão de Elias ao ponto que João Batista foi considerado “um Elias”, sem a necessidade de ser Elias em pessoa: “Mas os discípulos o interrogaram: Por que dizem, pois, os escribas ser necessário que Elias venha primeiro? Então, Jesus respondeu: De fato, Elias virá * e restaurará todas as coisas. Eu, porém, vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram; antes, fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do Homem há de padecer nas mãos deles. Então, os discípulos entenderam que lhes falara a respeito de João Batista.” (Mateus 17:10-13)

* Não quero ser dogmático em um assunto tão controverso, aponto de afirmar quem é que possam ser estas duas testemunhas; o que é mais seguro é supor é que pode ser que sejam dois judeus desta geração (assim como o serão os 144.000 selados) atuando no mesmo Espírito e poder que atuaram Moisés e Elias, com o objetivo de serem suficientemente convincentes para a população judaica da tribulação da veracidade de sua mensagem, em seus papéis de testemunhas da Lei e dos Profetas que apontam para o Cristo, que certamente, eles afirmarão que é o Jesus Cristo histórico que foi rejeitado anteriormente.

Ainda que a possibilidade de que Moisés retorne a terra pessoalmente para este ministério seja, aparentemente, mais remota; este não é o caso de Elias, a quem o profeta Malaquias anuncia que será enviado “antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor” - Malaquias 4:5,6 (“antes” esse que se encaixa com a tribulação) e, a quem o Senhor disse explicitamente que “de fato virá” (Mateus 17:11).

sai fogo da sua boca

Aqueles que procuram prejudicar as duas testemunhas enfrentam um destino semelhante ao dos oponentes do exército de Acazias que tentaram prender Elias (2 Reis 1), ou seja, foram consumidos por fogo.

Fogo fala de julgamento e, em alguns casos, é usado figurativamente para descrever a destruição (Juízes 9:20; Salmos 18:8). Frequentemente, o julgamento de Deus, em conformidade com Sua Palavra, é descrito como sendo uma arma de Sua boca (Isaías 11:4; 49:2; Oséias 6:5; 2 Tessalonicenses 2:8; Apocalipse 1:16; 19:15).

De acordo com as regras de interpretação, uma linguagem é literal até o ponto em que não faz sentido ser literal. Por exemplo, em Juízes 9:8-15 os homens são chamados de “árvores”, “oliveiras”, “figueiras”, “videiras” e “espinheiros”. Na Segunda Vinda os olhos de Jesus são como uma chama de fogo. As regras de interpretação nos impedem de interpretar arvores escolhendo reis para si e a espada como uma espada literal estendendo-se de Seu rosto. Em vez disso, reconhecemos a linguagem figurativa empregada e entendemos a espada em Sua boca como uma alusão à Palavra de Deus (Jeremias 5:14; 23:29; Oséias 6:5; Hebreus 4:12) pela qual Seus inimigos são julgados e mortos com justiça. Ou seja, os profetas anunciaram os julgamentos de Deus que eventualmente resultaram na morte literal dos julgados.

Seria fácil concluir, a partir desses usos figurativos do fogo e da boca como arma, que esse também deve ser o caso aqui em Apocalipse 11:5. Mas existem diferenças importantes entre as passagens citadas anteriormente e o que é dito aqui. As passagens em que a linguagem figurativa ocorre normalmente contêm uma indicação disso. Por exemplo, Oséias diz: “Eu as tenho lavradas pelos profetas”. Obviamente, as pessoas não foram literalmente cortadas em duas pelos profetas. Esta é uma indicação de que a linguagem figurativa é empregada. Da mesma forma, Jeremias é informado de que as pessoas serão feitas de “lenha” - outro indicador de que a linguagem figurativa está em uso. Não é bom o suficiente simplesmente estabelecer pela semelhança de temas em passagens relacionadas que se em uma delas é figurativo, portanto, em outra passagem também deve ser. O próprio contexto imediato da passagem em questão deve fornecer uma indicação de que a linguagem figurativa está em uso.

Existem três alternativas para interpretar Apocalipse 11:5:

Puramente figurativo - O fogo que sai de suas bocas fala de julgamentos gerais proferidos pelas duas testemunhas. Os julgamentos resultam em morte, mas não necessariamente por fogo literal.

Parcialmente Figurativo - O fogo literal devora seus inimigos. O fogo "sai de sua boca" no sentido de que, como Elias, eles invocam o fogo do céu sobre seus oponentes.

Puramente não figurativo - o fogo literal na verdade procede diretamente de suas bocas (como os cavalos demoníacos de Apocalipse 9:17).

Observe que todas essas alternativas são possíveis dentro dos limites da “interpretação literal”, porque a interpretação literal inclui o reconhecimento de figuras de linguagem onde o contexto assim o indicar.

A questão torna-se: O contexto aqui indica que a linguagem figurativa é empregada? Embora a linguagem figurativa descreva a semelhança de sua identidade com as "duas oliveiras" de Zacarias, o padrão de seu ministério - e especialmente os julgamentos que eles trazem - correspondem aos julgamentos não figurativos encontrados no AT. Devemos concluir que, se a linguagem figurativa está em andamento, ela é mínima. Ou seja, o fogo literal sai diretamente de suas bocas ou eles usam suas bocas para invocar fogo literal do céu.

Uma pergunta permanece: se esta passagem tem a intenção de descrever a habilidade de invocar fogo do céu sobre seus inimigos, como explicamos a diferença na descrição aqui de outras passagens onde o fogo é explicitamente chamado de descer do céu (2 Reis 1:10-12; Apocalipse 13:13)?

Assim, vários fatores favorecem uma interpretação puramente não figurativa em relação a esse julgamento de fogo de seus inimigos:

- Indicadores claros de linguagem figurativa sobre a natureza do fogo ou as pragas estão faltando.

- Julgamentos literais como os descritos aqui são registrados como fatos históricos no AT.

- Não se diz que o fogo se originou no céu, como em outras passagens a respeito de Elias e o Falso Profeta.

Quer o fogo venha diretamente de suas bocas, ou se suas palavras o evocam, parece que a autoridade milagrosa que atende a tal habilidade defensiva tem a intenção de manifestar a fonte divina de seu ministério (Números 16:35; Salmos 106:18; Hebreus 12:29).

A natureza incomum de sua resposta aos inimigos traz à mente o incidente em Números onde a família de Corá é julgada: “Então, disse Moisés: Nisto conhecereis que o Senhor me enviou a realizar todas estas obras, que não procedem de mim mesmo: se morrerem estes como todos os homens morrem e se forem visitados por qualquer castigo como se dá com todos os homens, então, não sou enviado do Senhor. Mas, se o Senhor criar alguma coisa inaudita, e a terra abrir a sua boca e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo, então, conhecereis que estes homens desprezaram o Senhor. E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra debaixo deles se fendeu, abriu a sua boca e os tragou com as suas casas, como também todos os homens que pertenciam a Corá e todos os seus bens. Eles e todos os que lhes pertenciam desceram vivos ao abismo; a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação.” (Números 16:28-33)

Moisés explica que a natureza incomum do julgamento serve a um propósito específico. Ele fornece um testemunho único da fonte do julgamento (Deus) e da autoridade de Moisés como Seu porta-voz.

Assim, essa habilidade consumidora de fogo testificará que Deus é quem está julgando os oponentes de Suas duas testemunhas e que eles têm plena autoridade em seu ministério.

Devemos também nos lembrar do período único em que esses dois indivíduos ministram. Este é um momento da história em que os poderes demoníacos estão em seu auge (Apocalipse 9:1-11,15-19; 13:3,13-15; 16:13) pois é o tempo do iníquo, cuja vinda “é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem (2 Tessalonicenses 2:9,10). Estes são os dias do Falso Profeta que “realiza grandes sinais, de modo que até mesmo faz descer fogo do céu sobre a terra à vista dos homens” (Apocalipse13:13).

Esses fatores históricos únicos também defendem uma interpretação completamente não figurativa, porque essas duas testemunhas devem exibir poderes milagrosos que são iguais ou mesmo superiores ao do homem do pecado e seu falso profeta em uma época frequentada por manifestações demoníacas.